Bolsonaro disse que “acataria qualquer resultado das eleições”, mas seu discurso também era fake

Que Jair Bolsonaro é um aprendiz de tiranete todos sabem, mas o presidenciável do PSL tem se esforçado para “vender” à opinião pública a falsa imagem de novo mensageiro da paz. Mesmo assim, ele oscila entre a própria essência e a lição de casa que tem a fazer.

Em 28 de setembro passado, Bolsonaro, durante entrevista ao jornalista e apresentador José Luiz Datena, disse “não aceito resultado das eleições diferente da minha eleição”. Em outras palavras, ou o País teria de engolir Jair Bolsonaro a força, ou sabe-se lá o que poderia acontecer. Pelo menos foi essa a mensagem subliminar do candidato que promete resolver os problemas nacionais na base do tiro e da violência.

Como a luz vermelha acendeu no staff de sua campanha, Bolsonaro foi obrigado a adoçar o discurso. E não demorou para afirmar: “Vamos acatar qualquer resultado das eleições. Não há dúvida de que vamos acatar”. Mesmo assim, arrumou uma desculpa para o recuo: “Logicamente que não temos uma forma de fazer uma auditoria. O Supremo derrubou o voto impresso”.

Entre o que Jair Bolsonaro fala e o que ele pensa há uma grande distância. Mas é preciso salientar que sempre prevalecerá o que ele pensa. Anunciado o resultado do primeiro turno da corrida presidencial, o candidato do PSL novamente colocou em xeque a confiabilidade do sistema eleitoral, o mesmo que o elegeu para tantos mandatos parlamentares.


“Se tivéssemos confiança no voto eletrônico, já teríamos o nome do futuro Presidente da República decidido no dia de hoje (domingo)”, disse Bolsonaro após o anúncio do resultado do primeiro turno da corrida presidencial.

A democracia brasileira vive um momento sui generis, pois o líder nas pesquisas só aceita a própria vitória como resultado válido, discurso que remete ao totalitarismo. No momento em que Jair Bolsonaro questiona a segurança das urnas eleitorais, coloca em xeque a eleição de muitos de seus apoiadores, a começar pelos filhos Eduardo e Flávio, eleitos deputado federal por São Paulo e senador pelo Rio de Janeiro, respectivamente.

Ao afirmar que sua eleição à Presidência não se consumou na primeira volta por causa de urnas supostamente fraudadas, Bolsonaro cai no lugar comum, uma vez que repete a cantilena entoada durante sua campanha por muitos de seus seguidores como forma de justificar de maneira antecipada uma eventual derrota.

Aliás, arrumar desculpas para os tropeços do candidato foi a marca de uma campanha embalada pelo pensamento tosco e binário de pessoas que acabaram dominadas por um sentimento odioso, ignorando a necessidade de forças opostas para manter viva a democracia.