Tal qual o pai, Eduardo Bolsonaro mostra-se golpista, mas covarde ao negar as próprias palavras

(*) Ucho Haddad

“Nada no mundo é mais perigoso que a ignorância sincera e a estupidez conscienciosa.” – Martin Luther King

Diz a sabedoria popular que o fruto não cai longe da árvore. Também no Evangelho, uma das muitas passagens bíblicas (João 5: 17-30) destaca que “o Filho só pode fazer o que vê o Pai fazer”. De tal modo, na família Bolsonaro isso não foge do script, mas acontece com impressionante frequência, talvez de forma quase doentia.

Candidato à Presidência da República pelo PSL, Jair Bolsonaro é um ser humano movido pela intolerância, mas suas necessidades eleitorais o obrigaram a travestir-se para ludibriar uma parcela da opinião púbica sempre disposta ao engodo. O misógino contumaz deu lugar a um homem que respeita as mulheres, apesar de vários registros provarem o contrário. Após ter assumido sua homofobia publicamente, o homofóbico abriu caminho a alguém simpático à causa LGBTI. Racista, Bolsonaro agarrou-se à imunidade parlamentar para justificar sua intolerância ao falar dos quilombolas, mas o candidato transformou-se da noite para o dia em defensor dos afrodescendentes. Diria que os incautos estão diante do “Jairzinho Paz e Amor”. E quem não te conhece que te compre!

De comportamento antissocial e limitado em termos de competência e intelectualidade, o que explica ter passado 28 anos no Parlamento sem nada fazer, Bolsonaro criou os filhos à sua imagem e semelhança. E nesse processo de reprodução não poder-se-ia esperar resultado diferente do original. Em suma, o bestiário familiar é repetido aos quatro cantos, não importando quem o entoe, desde que a truculência discursiva seja mantida, pois é o segredo do sucesso eleitoral do clã do “bate e arrebenta”.

Reeleito deputado federal por São Paulo, Eduardo Bolsonaro não é diferente do genitor quando solta a voz. Defende as mesmas teses esdrúxulas e antidemocráticas, até o momento em que esse discurso torpe chegar ao menoscabo.

Sempre falando a uma plateia formada por uma maioria de ignaros e ensandecidos, que acreditam na violência e na supressão de direitos como solução para os problemas do País, Eduardo Bolsonaro, durante palestra proferida antes do primeiro turno das eleições deste ano, disse que para fechar o Supremo Tribunal Federal “basta um soldado e um cabo”.

Não contente, mas avançando em sua conhecida boçalidade, o filho do presidenciável foi além no deboche ao dizer: “O que que é o STF, cara? Tira o poder da caneta de um ministro do STF, o que que ele é na rua? Você acha que a população… Se você prender um ministro do STF, você acha que vai ter uma manifestação popular a favor do ministro do STF?”.

Covarde, até porque esse é o traço genético, Eduardo Bolsonaro recuou após a repercussão do vídeo e negou que tenha defendido o fechamento do Supremo. “Se fui infeliz e atingi alguém, tranquilamente peço desculpas e digo que não era a minha intenção”, afirmou nas redes sociais. Ao que parece, o parlamentar não sabe a diferença entre ir e ser.

“Eu respondi a uma hipótese esdrúxula, onde Jair Bolsonaro teria sua candidatura impugnada pelo STF sem qualquer fundamento. De fato, se algo desse tipo ocorresse, o que eu acho que jamais aconteceria, demonstraria uma situação fora da normalidade democrática. Na sequência, citei uma brincadeira que ouvi de alguém na rua”, explicou.

Isso significa que, com base nessa resposta embusteira, quatro meses antes o vale-tudo estava em voga, mas agora caiu em desuso? É isso mesmo ou trata-se da famosa conversa para embalar o sono de bovinos? O pior é que nesse cenário típico de trem-fantasma há a chusma do pensamento binário que busca no PT alguma bizarrice para justificar a estupidez dos donos da seita.

Não obstante, pois essa turma não se satisfaz com a própria insensatez, o deputado afirmou que o vídeo não é motivo para alarde, possivelmente porque a fumaça neofascista é resultado do aquecimento daquilo que está por vir. Mesmo assim, ele afirmou que está com a “consciência tranquila” e que o momento é de “acalmar os ânimos”. Claro, o pai está com um pé e meio na rampa do Palácio do Planalto e a democracia verde-loura a caminho da sepultura.

Para coroar a bulha, Bolsonaro, o filho, repetiu as palavras de Bolsonaro pai e disse que “de fato essa pessoa precisa de um psiquiatra”, em referência a quem defende o fechamento do Supremo Tribunal Federal. Ora, terá sido um momento de lucidez de alguém que traz o DNA do totalitarismo? Ou, então, Eduardo Bolsonaro recorreu à fala sofismática para enganar mais uma vez a opinião pública? Uma coisa ou outra, o melhor é ele não passar diante de um manicômio, pois o porteiro é capaz de agarrá-lo, sem direito a saídas temporárias.

Contudo, continua a causar espécie o silêncio do Supremo, que em tempos outros já teria se manifestado para defender seu pundonor. Esse comportamento abstruso da Corte, que intramuros decidiu deixar a manifestação a cargo do ministro presidente, coloca sob questionamento o grau de coragem que existe debaixo de cada toga.

Estará o Brasil refém de um golpismo proeminente ou de uma Corte acovarda e paradoxal? Com a palavra, o primeiro corajoso que surgir em cena, após o ato de internação daquele que defendeu o fechamento do Supremo.

(*) Ucho Haddad é jornalista político e investigativo, analista e comentarista político, escritor, poeta, palestrante e fotógrafo por devoção.