Bolsonaro adota postura ditatorial em entrevista, mas diz ser garantia da democracia e da liberdade

Se há um aforismo que representa com precisão o presidenciável Jair Bolsonaro, “lobo em pele de cordeiro” certamente é o escolhido por aqueles que compreendem o que é democracia na acepção da palavra. Com trajetória marcada pela defesa contundente e sistemática do totalitarismo, Bolsonaro precisou vestir a fantasia do bom-mocismo para ludibriar a opinião pública e alcançar o seu objetivo, que poderá ser consumado no próximo dia 28: ser eleito presidente da República.

Nesta terça-feira (23), em entrevista à Rádio Guaíba, de Porto Alegre, Bolsonaro disse que sua candidatura representa a garantia da liberdade e da democracia, ao contrário de Fernando Haddad (PT), que, segundo o militar, quer impor controles sobre a mídia e o Judiciário.

Jair Bolsonaro mente ao falar em garantia da liberdade e da democracia, pois sua trajetória política não deixa dúvidas a respeito de um pensamento que aponta na direção oposta. Além disso, recentes declarações do candidato do PSL mostram de maneira clara seu desrespeito à democracia e o Estado de Direito, como ficou provado no discurso por teleconferência que fez para seus seguidores que realizaram ato no último domingo (21) na Avenida Paulista, em São Paulo.

Na ocasião, Bolsonaro afirmou: “Só que a faxina agora será muito mais ampla. Essa turma, se quiser que ficar aqui, vai ter que se colocar sob a lei de todos nós. Ou vão pra fora ou vão pra cadeia”.

É importante ressaltar que a lei é uma só e vale para todos, não importando a ideologia de cada um. Se Jair Bolsonaro tem problemas de convivência com integrantes da esquerda, o melhor a fazer é procurar tratamento, pois na democracia não há espaço para a intolerância, algo que ele sempre cultuou e pregou.


Sobre pessoas irem para a cadeia porque não rezam pela cartilha ideológica de Bolsonaro, isso é crime, pois a Constituição de 1988 garante em seu artigo 5º, inciso VIII, que “ninguém será privado de direitos por motivo de crença religiosa ou de convicção filosófica ou política”. Ou seja, Bolsonaro está longe de representar a garantia da liberdade e da democracia.

Não obstante, o discurso farsesco de Jair Bolsonaro alcançou seu ápice na própria entrevista, pois o candidato impediu que um jornalista da Rádio Guaíba lhe formulasse perguntas, o que de chofre configura censura.

O jornalista Juremir Machado abandonou o programa de rádio comandado pelo apresentador Rogério Mendelski, por ter sido impedido de fazer perguntas ao candidato do PSL à Presidência da República. Bolsonaro exigiu previamente conversar apenas com o apresentador do programa, o que mostra ser ele um antidemocrata.

Após a entrevista, Juremir Machado questionou se poderia dizer que havia sido “censurado”. “Por que não podíamos fazer pergunta? Eu achei humilhante e por isso estou saindo do programa. Foi um prazer trabalhar aqui por dez anos”, declarou o jornalista, abandonando a bancada.

Em seguida, o apresentador explicou que havia sido uma exigência do candidato e que “lamentava” a saída de Machado. Outro jornalista do programa, Jurandir Soares, disse que o pedido de Bolsonaro era “normal”. Mendelski então questionou o quarto componente da atração, Voltaire, sobre o que ele achava. “Eu preciso trabalhar, né? Preciso de emprego”, ele respondeu.

Resumindo, a ditadura já começou, com a anuência da uma parcela da população, mas Jair Bolsonaro ousa afirmar, mesmo tendo atentado contra a liberdade de imprensa, ser ele garantia da democracia e da liberdade. Bom dia, Pyongyang!