Gleisi não faz leitura adequada do desempenho de Haddad nas urnas e pode colocar tudo a perder

Não há como negar que o Partido dos Trabalhadores, na esteira de suas lambanças e do banditismo político, acabou turbinando a candidatura de Jair Bolsonaro e elegendo à Presidência da República um parlamentar do baixo clero que sempre se destacou por declarações polêmicas e pela defesa de temas radicais.

Por outro lado, é impossível não reconhecer que o discurso de ódio cultivado por Bolsonaro e seus seguidores ressuscitou o PT, que estava fadado a mais um processo de desidratação política, talvez semelhante ao que enfrentou nas eleições municipais de 2016.

Sem dúvida o sentimento de indignação da sociedade brasileira com o maior escândalo de corrupção de todos os tempos, o Petrolão, foi a centelha que acionou o calvário petista, mas as idas e vindas que marcaram a participação de um candidato da legenda na corrida presidencial influenciaram no resultado.

Nesse canhestro processo de “avanços e recuos”, teve grande responsabilidade a presidente nacional do PT, a ainda senadora Gleisi Helena Hoffmann, eleita deputada federal pelo Paraná. Mesmo assim, considerado o cenário complexo que circundou a candidatura de Fernando Haddad, o ex-prefeito da capital paulista teve um desempenho além do esperado nas urnas. Gostem ou não os bolsonaristas, 47 milhões de votos não é pouca coisa e dá ao partido musculatura política para fazer oposição. E nesse quesito os petistas são especialistas, é preciso admitir.


Contudo, é preciso saber qual decisão o PT tomará em relação ao futuro, pois se depender de Gleisi Hoffmann o partido retoma desde já o discurso radical e coloca tudo a perder, como se os estragos produzidos pelo Mensalão e pelo Petrolão nada representassem.

“Nesta noite de 28 de outubro nossa primeira palavra p/ o povo brasileiro é: resistiremos. Resistiremos em defesa dos direitos, das liberdades da soberania! Um processo eleitoral construído em cima de impedimentos, mentiras, distorções, caixa dois vai nos impulsionar a lutar mais”, escreveu Gleisi Helena no Twitter.

Mesmo que a parte já revelada da delação de Antonio Palocci Filho não tenha trazido detalhes novos e estarrecedores, o está sob segredo por certo tem elevado potencial destruidor. Palocci confirmou notícias do UCHO.INFO ao afirmar às autoridades da Operação Lava-Jato que, enquanto ministro, operou nos bastidores com o intuito de fazer “caixa 2” para o partido. O ex-petista declarou que nas duas campanhas de Dilma Rousseff à Presidência o PT desembolsou R$ 1,4 bilhão, valor confirmado por este portal há anos, sem qualquer contestação por parte do governo de então.

No momento em que o PT precisa vir a público e de forma clara, sem rapapés, para fazer um mea culpa no que tange à roubalheira patrocinada pela legenda ao longo de anos a fio, Gleisi demonstra descontrole ao citar “caixa 2” em seu comentário.

Na atual conjuntura, caso queira realmente se reinventar, o melhor que o PT pode fazer é evitar declarações polêmicas e atuar responsavelmente na oposição. A questão que impera nos bastidores petistas é sobre quem assumirá a liderança da legenda. O que se sabe por enquanto é que Gleisi não quer perder o reinado, mas Fernando Haddad é forte candidato ao posto.