Ocupado com questões do próximo governo, Lorenzoni já deveria ter se licenciado do mandato de deputado

Beira o devaneio um político que se diz democrata apoiar incondicionalmente outro que defende a ditadura e homenageia torturadores, mas no Brasil cada qual tem seu conceito de democracia, que deveria ser uno e inviolável. Não obstante, qualquer homem público que se preze deveria zelar pelo dinheiro do contribuinte, mesmo que a lei respalde eventuais absurdos cometidos contra o erário.

Um dos coordenadores da campanha de Jair Bolsonaro, um dos responsáveis pela equipe de transição do presidente eleito e cotado para assumir a chefia da Casa Civil da Presidência da República, o deputado federal Onyx Lorenzoni deveria tomar o discurso moralista do futuro “patrão” como regra e licenciar-se do mandato parlamentar que lhe conferiu o eleitorado gaúcho.

Desde que passou a se dedicar à campanha do agora presidente eleito, Lorenzoni pouco tem aparecido na Câmara dos Deputados, que vem depositando regiamente na conta bancária os valores a que o parlamentar tem direito, como salário, verbas indenizatórias e outros penduricalhos financeiros atrelados ao mandato.

Antes que algum leitor insurja contra este noticioso, não é de hoje que o UCHO.INFO defende que todos os parlamentares que concorrem à reeleição ou disputam novos cargos eletivos devem se licenciar do mandato, pois o contribuinte não tem obrigação de pagar salários a quem está em campanha política. Considerando que o Parlamento na prática não funciona durante o período eleitoral, pagar salários e outros benefícios a deputados e senadores é um escárnio.


Onyx Lorenzoni faz-se de desentendido, pois a ele interessa essa situação, uma vez que nos próximos dias um novo depósito será feito nas contas bancárias dos deputados federais. Considerando que o democrata gaúcho tem se dedicado exclusivamente a assuntos relacionados ao próximo governo, nada mais justo do que afastar do mandato de deputado ou até mesmo renunciar, algo que terá de fazer para assumir o comando da Casa Civil em 1º de janeiro.

A nova legislatura começará em 1º de fevereiro e por conta disso alguém assumirá a vaga a ser aberta com a renúncia de Lorenzoni. Ou seja, o contribuinte brasileiro terá de pagar um mês de salário para um parlamentar que sequer comparecerá à Câmara dos Deputados, apenas porque o quadro parlamentar precisa estar completo.

O discurso em prol da moralização da política cai bem em tempos de eleição, mas colocá-lo em prática é uma dificuldade hercúlea. Afinal, dinheiro é bom e todos gostam, principalmente quando é público e vem com facilidade.

Ademais, não se pode esperar postura diferente de um político que recebeu R$ 100 mil da JBS, por meio de caixa 2, e diz que no novo governo “quem roubar vai para a cadeia e Bolsonaro joga a chave fora”. Além disso, Lorenzoni é acusado de receber da Odebrecht R$ 175 mil, também via caixa 2, para sua campanha de 2006 e será investigado em um dos inquéritos abertos pelo ministro Edson Fachin, do Supremo Tribunal Federal (STF). Na planilha de propinas da empreiteira, Onyx Lorenzoni era mencionado com o sugestivo codinome “Inimigo”.

Alguém, dragado pelo equívoco, pode dizer que trata-se de implicância antecipada do UCHO.INFO em relação ao futuro governo de Bolsonaro, mas estamos a repetir a mesma postura adotada com Fernando Henrique Cardoso, Lula, Dilma Rousseff e Michel Temer. Até porque, como reza a Constituição, “todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza”. Em outras palavras, “o pau que bate em Chico, bate em Francisco”.