Em fim de linha, tucanos rasgam a história ao defender apoio Bolsonaro como forma de retaliar o PT

O exercício da política não permite acomodação, seja por parte dos atores políticos, seja por parte do cidadão. Infelizmente, no Brasil a preguiça tomou conta do cenário político de forma tão avassaladora, que a sociedade recorreu ao radicalismo como forma de mudança, enquanto que aqueles que deveriam ter evitado o pior acabaram sofrendo consequências graves. Ou seja, o eleitor “pensou com o fígado”, ao passo que os outrora eleitos quase foram dizimados.

A democracia cresce à sombra desses percalços, mas uma nação espoliada como a nossa não permite esses testes marcados por manobras radicais. E que ninguém espere mudanças sustentáveis, pois medidas adotadas à sombra do populismo têm eficácia de pouca duração.

Não é de hoje que o UCHO.INFO afirma que é preciso repensar o Estado, como um todo, e reinventar o Brasil, sempre na esteira do bom senso e do equilíbrio, deixando de lado o oportunismo político. Encerradas as mais polemicas e polarizadas eleições desde a redemocratização, o Brasil volta a ser palco do conchavo, mesmo que os políticos neguem essa prática em nome da mudança. Não há política sem acordo. E assim será por muito tempo, apesar dos discursos supostamente moralizadores que sopraram em todos os quadrantes nacionais.

É importante salientar que a democracia só existe quando calcada sobre forças opostas, pois do contrário tem-se regimes totalitários, sejam de direita ou de esquerda. Com os resultados das recentes eleições, o Brasil está diante de uma lufada de oportunismo jamais vista, em que políticos disparam pílulas de moralidade pública, quando na verdade tentam garantir seus interesses. O discurso de preocupação com o País e o futuro dos cidadãos é conversa fiada e faz parte do script.

O maior exemplo da insanidade política que toma conta do País é o discurso de parte do PSDB, que defende apoio ao futuro governo de Jair Bolsonaro como forma de retaliar o Partido dos Trabalhadores. Não se trata de defender o PT, que durante pouco mais de treze anos promoveu, à sombra do banditismo político, um estrago sem precedente, mas de cobrar coerência daqueles que agora pregam moralismo.


Em primeiro lugar é necessário ressaltar que o PSDB surgiu do ideal da social democracia, o que por si só deveria impedir qualquer movimento na direção de Bolsonaro e seus quejandos, que defendem o radicalismo direitismo como caminho para resolver os problemas nacionais. A prevalecer essa tese, o PSDB acaba, já que um agrupamento de letras pode ser mudado a qualquer tempo.

Outrossim, com o pretendido apoio ao futuro governo Bolsonaro, o PSDB tenta fazer o que não conseguiu ao longo dos últimos anos: oposição ao PT. E para tal busca a maneira mais radical e condenável para colocar em marcha seu frustrado plano. O partido teve oportunidade de se posicionar contra o PT em meados de 2005, quando o marqueteiro Duda Mendonça confessou em depoimento à CPMI dos Correios ter recebido no exterior parte dos honorários referentes à campanha presidencial de 2002, mas os tucanos preferiram manter a soberba, o salto alto e os punhos de renda, agarrando-se à obtusa tese da governabilidade.

PSDB e PT são xifópagos ideológicos separados no berço, portanto defendem os mesmos ideais, respeitadas algumas diferenças, mas recorrer ao radicalismo direitista, que remete à era plúmbea, apenas e tão somente para faz birra aos petistas, é se apequenar no campo político.

Não obstante, os tucanos deveriam reconhecer que em termos de corrupção e roubalheira não são diferentes dos petistas, mesmo que os valores criminosamente embolsados difiram. Até porque, corrupção é crime independentemente do montante de dinheiro público desviado.

Em suma, sair de cima do muro para evitar um eventual retorno do PT ao poder é repetir o erro de 2005, pois se há algo que os petistas fazem com certa competência é oposição ferrenha, da mesma forma que são um monumental desastre quando estão no governo, com direito a avançar sobre o suado dinheiro do contribuinte.