Operação Capitu: PF prende Joesley, Ricardo Saud e vice-governador de MG por corrupção

A Operação Capitu, da Polícia Federal, prendeu na manhã desta sexta-feira (9) o empresário Joesley Batista, sócio do grupo J&F; Ricardo Saud, ex-executivo da JBS; Antonio Andrade (MDB), vice-governador de Minas Gerais; além de outras 12 pessoas. Três mandados de prisão ainda não foram cumpridos.

A investigação que levou às prisões teve como alvo um esquema criminoso que funcionava na Câmara dos Deputados e no Ministério da Agricultura. Um esquema de arrecadação de propina operado no ministério tinha como objetivo beneficiar políticos do MDB, que recebiam dinheiro da JBS, empresa dos irmãos Joesley e Wesley Batista. Ato contínuo, as empresas do grupo eram beneficiadas pelo Ministério da Agricultura.

A Operação Capitu só foi possível a partir da colaboração do doleiro Lúcio Bolonha Funaro, tido como operador do MDB em casos envolvendo dinheiro sem procedência. Causa espécie o fato de Joesley Batista, Ricardo Saud e Demilton de Castro (ex-executivo da JBS) terem sido presos na Operação Capitu, pois os três firmaram acordo de delação premiada e vinham colaborando regularmente com as autoridades no âmbito da Lava-Jato. Quando há esse acordo pressupõe-se que exista lealdade de parte a parte.

Duas grandes redes varejistas de Minas Gerais – BH e EPA – atuavam no esquema, por meio de seus controladores e diretores. As redes varejistas se aproveitavam do grande fluxo de caixa para lavar o dinheiro que era doado a partidos e políticos. O esquema operou entre agosto de 2014 e fevereiro de 2015.

Quando ocupou o Ministério da Agricultura, o vice-governador mineiro teria beneficiado a JBS ao determinar a regulamentação da exportação de despojos (parte do boi não usada para consumo), a proibição do uso da ivermectina (antiparasita) de longa duração e a federalização das inspeções de frigoríficos, de acordo com dados das investigações. Como contrapartida, a JBS teria pago R$ 2 milhões pela regulamentação da exportação de despojos e R$ 5 milhões na proibição da ivermectina de longa duração.

Caso sejam indiciados, os envolvidos no esquema responderão pelos crimes de constituição e participação em organização criminosa, obstrução de Justiça, corrupção ativa e passiva e lavagem de dinheiro.

Mensagem da operação

Muito além da identificação do esquema de propina e da prisão dos suspeitos, a Operação Capitu mostra ao País não apenas que o crime não compensa, mas a importância do respeito à lei diante de uma suspeita de ilícito.

O Brasil vive um momento estranho na esfera política, com dúvidas sobre o futuro, mas a maioria da sociedade continua acreditando que a retomada da moralidade pública deve acontecer na esteira do achismo, do desrespeito à lei e do “bate e arrebenta”. É preciso cuidado redobrado com essa ânsia de ver tudo resolvido da noite para o dia, depois de mais de uma década de complacência com o banditismo político.


O alerta faz-se necessário porque a afobação e o desrespeito à lei podem transformar o culpado em vítima, quando, na verdade, o que o País mais precisa é livrar-se dos malfeitores. O processo de assepsia demanda tempo, paciência e determinação, pois um tumor não se extirpa com um passe de mágica, mesmo que milagres existam.

Entre os presos pela PF estão pessoas conhecidas no meio político, cujos nomes eram ventilados com insistência nos bastidores do poder como sendo corruptos contumazes. Contudo, sem as devidas e necessárias provas, continuaram agindo deliberadamente, até que foram alcançados pelas garras da lei.

Tendo em seus quadros inúmeros profissionais altamente capacitados, como demonstram as muitas operações de combate ao crime, a Polícia Federal é uma das instituições mais respeitadas do País, a quem presta relevante serviço ao enfrentar a corrupção e os corruptos. Sendo assim, o melhor a se fazer é cumprir a lei e deixar a PF agir dentro do seu tempo.

Confira abaixo os nomes dos presos na Operação Capitu

– Antonio Andrade, vice-governador de Minas e ministro da Agricultura de março de 2013 a março de 2014

– Joesley Batista, sócio da J&F, dona da JBS

– Ricardo Saud, ex-executivo da J&F

– Demilton de Castro, ex-executivo da J&F

– João Magalhães, deputado estadual pelo MDB de MG

– Neri Geller, deputado federal eleito pelo PP de MT e ministro da Agricultura de março de 2014 a dezembro de 2015

– Rodrigo Figueiredo, ex-secretário de Defesa Agropecuária

– Mateus de Moura Lima Gomes, advogado

– Mauro Luiz de Moura Araújo, advogado

– Ildeu da Cunha Pereira, advogado

– Marcelo Pires Pinheiro

– Fernando Manoel Pires Pinheiro

– Walter Santana Arantes

– Claudio Soares Donato

– José Francisco Franco da Silva Oliveira