Áudio do brutal assassinato de Jamal Khashoggi deixou oficial da Arábia Saudita horrorizado

Ao retornar de viagem a Paris, onde participou das comemorações do Dia do Armistício da 1ª Guerra Mundial, o presidente da Turquia, Recep Tayip Erdogan, comentou com repórteres sobre a brutalidade do assassinato do jornalista saudita Jamal Ahmad Khashoggi.

Aos profissionais de imprensa Erdogan revelou que um oficial do serviço de inteligência da Arábia Saudita teria ficado “horrorizado” ao escutar a gravação da morte de Khashoggi. “Quando ele ouviu [as gravações], o agente da inteligência saudita se surpreendeu tanto que disse: ‘parece que [o assassino] usou heroína, isto só pode ser feito por alguém que usou heroína’”, contou o presidente turco.

Recep Erdogan disse que seu governo disponibilizou para diversos chefes de Estado os áudios do assassinato, inclusive a Donald Trump, Emmanuel Macron, Angela Merkel e representantes dos governos britânico e canadense.

“Os líderes ouvem as gravações de áudio, mas não respondem imediatamente sobre que fazer. Fazem seus próprios registros e avaliações necessárias […] observei desconforto nos rostos do senhor Trump, do senhor Macron e da senhora Merkel. Nos EUA, o Congresso pediu informações à CIA. Acredito que o ponto de vista mudará quando forem apresentadas as suas conclusões”, disse ao jornal diário turco Hürriyet.

De acordo com o ministro de Relações Exteriores da Turquia, Mevlüt Çavusoglu, os áudios foram compartilhados oficialmente com outros governos no dia 24 de outubro, 22 dias após a morte do jornalista saudita.

Erdogan manteve o discurso duro contra a Arábia Saudita, já que em sua opinião as autoridades de Riad continuam tentando “atrapalhar” as investigações. “O procurador-chefe [saudita] chegou e se reuniu com o procurador-chefe de Istambul. Ele veio com a intenção de dar desculpas impossíveis [para atrapalhar tudo]”, disse o presidente da Turquia.

Para o mandatário turco, a solução do caso só tem um caminho a ser seguido: “Quem deu a ordem [do assassinato]? Os detidos por causa do assassinato deveriam falar. Eu disse ao senhor Trump que não havia necessidade de buscar os assassinos aqui e acolá. Os assassinos estão entre os 18 [detidos]”, disse.


Príncipe herdeiro na berlinda

A questão é que o assassinato de Jamal Khashoggi é um enorme problema para Arábia Saudita no âmbito internacional, pois o príncipe herdeiro Mohammed bin Salman, de aparência dócil, mas conhecido por usar métodos nada convencionais para resolver problemas e afastar desafetos.

Uma gravação obtida pelas autoridades da Turquia e mostrada à diretora da CIA, Gina Haspel, registra o momento em que um dos de Khashoggi telefona para um assessor do príncipe herdeiro.

De acordo com reportagem publicada na segunda-feira (12) pelo jornal The New York Times, Maher Abdulaziz Mutreb, integrante da equipe de 15 pessoas enviada a Istambul, disse em árabe a expressão “Diga a seu chefe” em um telefonema na sequência do assassinato.

Mutreb também teria dito “Missão cumprida”. Para agentes de inteligência dos Estados Unidos, a fala de Mutreb era uma referência ao príncipe feita a um assessor do outro lado da linha. Os investigadores turcos, porém, consideram que o áudio não incrimina diretamente Mohammed bin Salman, mas o coloca indiretamente na cena do crime, talvez como manante ou conivente com a execução.

A publicação afirma que, por essa razão, o governo americano pediu cautela por não ser uma prova irrefutável do envolvimento. Outros fatores que colocam em dúvida a versão são que o príncipe não é citado diretamente e que o assassino pode desconhecer de onde partiu a ordem para assassinar o jornalista saudita, conhecido por ser um crítico ácido da dinastia Saud. (Com agências internacionais)