Caso queira iniciar o governo sem “dores de cabeça”, Bolsonaro terá de negociar com o Congresso

Durante a campanha, o agora presidente eleito Jair Bolsonaro afirmou, em vários momentos, que não negociaria com partidos no Congresso para garantir a aprovação de projetos de interesse do governo, mesmo tendo passado 28 anos no Parlamento e conhecendo o modus operandi da política nacional.

Entre o discurso de Bolsonaro e a realidade há uma distância perigosa, que poderá comprometer não apenas as promessas de campanha, mas o desempenho de um governo que a partir de 1º de janeiro terá desafios enormes pela frente, como, por exemplo, a reforma da Previdência.

Queira ou não Jair Bolsonaro, a retomada do crescimento econômico só será possível se um projeto consistente e amplo de reforma da Previdência for aprovado logo após a instalação da nova legislatura no Congresso, em 1º de fevereiro. Sem essa medida, qualquer ação do governo na área econômica será inócua.

O calcanhar de Aquiles do próximo governo está exatamente na não disposição de Bolsonaro em negociar com partidos. Com um Congresso fragmentado, em especial a Câmara dos Deputados, sentar à mesa de negociação é condição primeira para garantir a aprovação de medidas de interesse do País. Isso significa que Bolsonaro terá não apenas de ceder, mas oferecer alguma contrapartida para ter apoio dos congressistas.


A questão que intriga os políticos é como o próximo presidente tratará o assunto; no atacado ou no varejo. Se Bolsonaro negociar caso a caso, o custo para o governo será alto, assim como o risco, pois ficar refém do humor da classe política não é recomendável. Por outro lado, se a negociação for no atacado, ou seja, apoio incondicional ao governo, o preço inicial é mais alto, mas se diluído ao longo do tempo torna-se barato (sic).

Contudo, um detalhe acendeu a luz vermelha no Congresso Nacional. A decisão de Bolsonaro de nomear como ministros três políticos filiados ao Democratas – Onyx Lorenzoni (Casa Civil), Tereza Cristina (Agricultura) e Luiz Henrique Mandetta (Saúde) – poderá provocar uma intifada na Câmara, principalmente no chamado Centrão, bloco que no primeiro turno da corrida presidencial foi alvo de duras críticas por parte de Bolsonaro.

Em outro vértice da polêmica está o plano do deputado federal Rodrigo Maia (DEM-RJ) de buscar a reeleição como presidente da Câmara. Sonhando em governar tendo à disposição no Parlamento uma maioria quase genuflexa, Bolsonaro vê em Maia um aliado não tão confiável, principalmente porque o parlamentar fluminense é adepto do diálogo e tem boas relações com as legendas de esquerda.

No caso de Rodrigo Maia ser alijado da disputa pela presidência da Câmara dos Deputados, Bolsonaro estaria comprando problemas de forma antecipada e desnecessária. Toda essa manobra traiçoeira vem sendo creditada a Onyx Lorenzoni, que, segundo comenta-se nos bastidores brasilienses, estaria conspirando contra Maia e o presidente do DEM, ACM Neto, prefeito de Salvador.

Como costumeiramente diz-se na política, essa é mais uma “briga de cachorro grande”, que ao final terá um perdedor. Após sete mandatos como deputado federal, Bolsonaro teve tempo suficiente para aprender o jogo bruto da política. Caso queira fazer valer sua vontade na base da força e da intolerância, de novo o Brasil sairá perdendo.