Pressionado, Jair Bolsonaro protagoniza vexame e muda discurso sobre ministro da Educação

Que a incompetência política de Jair Bolsonaro causaria surpresas no Executivo federal qualquer brasileiro sabia, mas o presidente eleito resolveu abusar dos balões de ensaio para camuflar sua falta de traquejo para o cargo que assumirá em 1º de janeiro.

O mais recente imbróglio envolve a nomeação do próximo ministro da Educação, assunto que ganhou contornos extras na quarta-feira (21), quando o nome do educador Mozart Neves Ramos foi anunciado como futuro titular da pasta. Mozart se reuniria com o presidente eleito nesta quinta-feira (22), em Brasília, ocasião em que aceitaria oficialmente o convite.

Tão logo o nome de Mozart Ramos começou a circular como futuro ministro da Educação, a bancada evangélica no Congresso rumou às pressas para o Centro Cultural do Banco do Brasil (CCBB), na capital federal, onde está instalada a equipe de transição de Bolsonaro. Lá, os parlamentares informaram ao deputado federal Onyx Lorenzoni (DEM-RS) que não aceitavam a indicação de Mozart pelo fato de o educador não ter compromisso com a “Escola sem Partido” e até hoje não ter se manifestado contra a “ideologia de gênero”.

Diante da pressão, Lorenzoni disse que a nomeação de Mozart Ramos não estava definida, o que proporcionou certo alívio aos evangélicos, que na corrida presidencial apoiaram Jair Bolsonaro na esteira do conservadorismo. O presidente eleito, por sua vez, não perdeu tempo e usou sua conta no Twitter para informar que a escolha do próximo ministro da Educação ainda estava em aberto.


Na mesma linha, como se tivessem combinado, o Instituto Ayrton Senna, do qual Mozart é diretor, divulgou nota informando que eram improcedentes as notícias veiculadas pela imprensa sobre a indicação do educador para o ministério. A entidade destacou na nota que Mozart Ramos sequer foi convidado para o cargo, mas que nesta quinta-feira teria uma reunião técnica com Bolsonaro.

Por razões óbvias, ainda na noite de quarta-feira, os eleitores e aduladores de Bolsonaro invadiram as redes sociais para atacar os jornalistas que criticaram o vergonhoso recuo do presidente eleito. Como enfurecidos integrantes de uma seita, os apoiadores de Bolsonaro repetiram o mantra de que tudo não passava de fake news. E na manhã desta quinta-feira, pessoas próximas ao presidente eleito adotaram a mesma postura, pois era preciso minimizar mais um episódio dantesco do capitão reformado.

Sem ter como explicar o “vai não vai”, Jair Bolsonaro afirmou que o Ministério da Educação carece de um nome técnico, como se Mozart Ramos fosse um neófito no assunto. Além de diretor do Instituto Ayrton Senna, ele foi secretário de Educação de Pernambuco, reitor da Universidade Federal de Pernambuco e primeiro presidente-executivo do movimento “Todos pela Educação”.

Na verdade, o que Bolsonaro buscava era um nome alinhado ideologicamente e que atendesse aos anseios da bancada evangélica. Foi então que surgiu o nome do procurador regional da República do Distrito Federal, Fernando Schelb. Defensor declarado do projeto “Escola sem Partido”, Schelb é contra a “discussão de gênero” nas escolas.

Se nos próximos quatro anos Jair Bolsonaro agir dessa maneira, o Brasil não apenas dará largos passos na seara do retrocesso, mas existirá à sombra do emocionante movimento do iô-iô. O pior foi a deselegância cometida com Mozart Ramos, que foi convidado para o cargo, mas acabou rifado por um grupelho de políticos retrógrados que flerta com o passado.