Ao vetar Conferência do Clima no Brasil, Bolsonaro mostra despreparo e que o governo começa mal

A retirada da candidatura do Brasil como sede da COP-25, a conferência anual da ONU para negociar a implementação do Acordo de Paris, provocou divergências entre o presidente eleito Jair Bolsonaro e dois futuros ministros nesta quarta-feira (28).

Era esperado que o Brasil sediasse o evento, mas o Itamaraty comunicou a retirada da candidatura em nota divulgada na terça-feira (27), decisão lamentada por ONGs ligadas ao meio ambiente e aos povos indígenas.

A decisão foi marcada por um “vai e vem de declarações”, que acabou com um desmentido do próprio Bolsonaro, desautorizando o futuro chefe da Casa Civil, Onyx Lorenzoni. À tarde, Lorenzoni afirmou, ao lado do presidente eleito, que o futuro governo “nada teve a ver com a decisão”. “Esta é uma decisão do Itamaraty”, o deputado gaúcho, cuja fala acabou interrompida por Bolsonaro.

“Houve participação minha nessa decisão. Ao nosso futuro ministro, eu recomendei que se evitasse a realização desse evento aqui no Brasil. Até porque eu preciso que vocês nos ajudem, está em jogo o ‘triplo A’ nesse acordo”, afirmou o presidente eleito, em referência ao futuro chanceler Ernesto Araújo, que tem posicionamento crítico em relação às previsões de aquecimento global. Ou seja, Bolsonaro não tem opinião própria acerca de temas importantes, o que denota que o governo será um amontoado de “puxadinhos”.

“Triplo A”, segundo Bolsonaro, seria uma faixa que envolve a Cordilheira dos Andes, a Amazônia e o Oceano Atlântico. O Acordo de Paris, para o capitão reformado, colocaria em risco a soberania nacional dentro desse território. Contudo, não há no Acordo de Paris qualquer menção ao chamado “Triplo A”. Em suma, mais um devaneio de um governo que começou mal antes da estreia oficial.

“Não quero anunciar uma possível ruptura dentro do Brasil. Além dos custos que seriam, no meu entender, bastante exagerado tendo em vista o déficit que nós já temos no momento”, acrescentou.


O futuro chefe do Itamaraty declarou em diversas ocasiões ser contrário ao “alarmismo climático”, classificando as mudanças climáticas como “dogma marxista”. Na condição de ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo seria o responsável por presidir as negociações para a implementação do Acordo de Paris, caso a COP acontecesse no Brasil no próximo ano.

Com a retirada da candidatura brasileira, caberá ao Grupo de Países Latino-americanos e Caribenhos (Grulac) indicar à ONU outro país da região, onde é esperada a realização da COP de 2019.

Em seguida, também em entrevista, o futuro ministro do Turismo, Marcelo Álvaro Antônio (PSL-MG), afirmou que a COP é “de grande importância” para discutir a questão climática e “todos os outros temas que estão relacionados ao turismo”.

Informado sobre a posição do presidente eleito, Álvaro Antônio balançou. “Não conversei com o presidente ainda. Se a posição dele é essa, obviamente a gente respeita a posição do presidente, mas vou conversar com ele para a gente ter o alinhamento das ideias.”

“A gente ainda precisa se aprofundar mais e entender melhor qual o impacto da não realização do evento nessa visibilidade do Brasil aqui dentro e também no exterior.”

Somente alguém movido pelo radicalismo ideológico é capaz de não enxergar o desastre que representa abandonar o Acordo de Paris, como vem sinalizando o futuro chanceler brasileiro. Considerando que o agronegócio nacional tem participação importante na balança comercial, a preocupação com a preservação do clima é preponderante também no caso das exportações.

De acordo com a futura ministra da Agricultura, Tereza Cristina (DEM-MS), “o Acordo de Paris é importante para a agricultura brasileira, pois o produtor brasileiro é reconhecido lá fora como preservador”.