Relatório do Coaf: Bolsonaro descartava ilícito, mas agora diz “se tiver algo errado, que paguemos”

    Desde que veio à tona o relatório do Conselho de Controle das Atividades Financeiras (Coaf) com movimentação bancária atípica do policial militar de Fabrício de Queiroz, ex-assessor do deputado estadual Flávio Bolsonaro (PSL-RJ), o presidente eleito, Jair Bolsonaro, vinha evitando declarações à imprensa, pois sabia que questionamentos sobre o assunto seriam inevitáveis.

    Nesse período, Bolsonaro limitou-se a afirmar que o depósito no valor de R$ 24 mil feito por Fabrício na conta de Michelle Bolsonaro referia-se a pagamento de parte de empréstimo que fizera ao ex-assessor do filho, mas tal explicação não convenceu. O presidente eleito recorreu ao futuro ministro da Justiça, Sérgio Moro, que tentou emplacar na imprensa essa tese, mas não obteve sucesso.

    O próximo chefe da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, adotou a estratégia de atacar a imprensa, afirmando que veículos de comunicação tentavam denegrir a imagem de Bolsonaro, mas o plano fracassou. Afinal, o escândalo foi ganhando corpo com o passar dos dias, enquanto Fabrício de Godoy continuava desaparecido (e continua).

    Visivelmente incomodado com os desdobramentos do caso, Jair Bolsonaro foi pressionado pelos generais que o assessoram para uma explicação minimamente coerente, antes que o caso avançasse ainda mais na seara da especulação.

    Com Flávio Bolsonaro mergulhado em silêncio quase obsequioso, após declarar que no último final de semana ouvira de Fabrício uma explicação plausível para a movimentação bancária que alcançou a marca de R$ 1,2 milhão em 2017, o presidente eleito não teve outra saída, que não fazer uma transmissão ao vivo pela internet.

    Nas redes sociais, Jair Bolsonaro negou que ele e o filho estão sob investigação, mas admitiu ter um “problema pela frente” ao mencionar a apuração do rumoroso caso envolvendo o ex-assessor parlamentar do senador eleito Flávio Bolsonaro.

    “Deixo bem claro que eu não sou investigado, meu filho Flávio não é investigado e, pelo que me consta, este ex-assessor nosso será ouvido na semana que vem, onde a gente espera que ele dê os devidos esclarecimentos pro que vem acontecendo”, afirmou.

    “Se algo estiver errado, que seja comigo, com meu filho, com o Queiroz,que paguemos aí a conta deste erro que nós não podemos comungar com erro de ninguém. Da minha parte estou aberto a quem quiser fazer pergunta sobre este assunto”, afirmou Jair Bolsonaro.

    Até dias atrás, Bolsonaro e seu filho afirmavam que nada de ilícito havia, mas com a fermentação do escândalo o discurso começa a mudar lentamente. Quem conhece as entranhas do poder sabe que essa estratégia é usada para minimizar o impacto de escândalos junto à opinião pública. Profissionais especializados em gerenciamento de crise adotam esse modus operandi, sempre apostando em reação mais amena da sociedade diante dos resultados de investigações.

    Apostar todas as fichas no depoimento de Fabrício de Queiroz como ponto crucial para esclarecer o caso é algo temerário, pois o ex-assessor pode falar o que sabe, portanto, além do que deve, arrastando ao olho do furacão todos os envolvidos no esquema que, tudo indica, tem similaridades com a conhecida “operação gafanhoto”, quando parlamentares comem parte da folha de pagamento dos respectivos gabinetes.