Após falar em “explicação plausível”, Flávio Bolsonaro diz que ex-assessor é quem deve se explicar

Deputado estadual e senador eleito pelo PSL fluminense, Flávio Bolsonaro é uma ode à contradição. Há dias, logo após o jornal “O Estado de S. Paulo” noticiar que o Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) detectara movimentação atípica na conta bancária do seu ex-assessor, o filho do presidente eleito disse que ouviu de Fabrício de Queiroz “explicação plausível” para o “vai e vem” de dinheiro.

O Coaf detectou movimentações atípicas nas contas de dezenas de servidores da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj), sendo que o Ministério Público decidiu abrir 22 processos investigativos para apurar ilícitos na esteira da Operação Furna da Onça.

Na última quinta-feira (13), Flávio Bolsonaro usou sua conta no Facebook para afirmar que não poderia dar explicações sobre um assunto que desconhece. Ora, se ele próprio afirmou que ouviu de Fabrício “explicação plausível” sobre o assunto, causa espécie essa repentina mudança de opinião em tão pouco tempo. Além disso, pode ser classificada como conversa de malucos alguém que ouve uma “explicação plausível” sobre assunto que desconhece.

Nesta terça-feira (18), Flávio deu mais uma demonstração de que o escândalo envolvendo o ex-assessor parlamentar o incomoda sobremaneira. E sua tentativa de escapar do imbróglio o arrasta cada vez mais para o olho do furacão.

Durante cerimônia de diplomação dos candidatos eleitos no Rio de Janeiro, o filho de Bolsonaro disse que cabe a Fabrício se explicar. “Quem tem que dar explicação é o meu ex-assessor, não sou eu. A movimentação atípica é na conta dele. No meu gabinete todo mundo trabalha”, declarou Flávio Bolsonaro.


É no mínimo estranho o fato de Fabrício de Queiroz ter recebido em sua conta bancária depósitos de funcionários do gabinete de Flávio, em datas coincidentes às dos pagamentos dos salários efetuados pela Alerj. De igual modo, é estanho o fato de Fabrício ter adotado silêncio obsequioso desde a revelação do escândalo, permanecendo em local incerto.

Segundo informações, o ex-assessor passou os últimos dias reunido com um advogado e um contador, possivelmente para construir o depoimento que prestará ao Ministério Público na quarta-feira (19), quando, espera-se, revele a verdade sobre o dinheiro (R$ 1,2 milhão) movimentado ao longo de doze meses.

Nos últimos dias, surgiu a informação de que Fabrício de Queiroz teria atividades paralelas, como, por exemplo, a venda de carros usados e de bijuterias. Isso pode até ser verdade, mas não explica o repasse de dinheiro por parte de funcionários do gabinete de Flávio Bolsonaro nem o depósito, no valor de R$ 24 mil, feito na conta de Michelle Bolsonaro, esposa do presidente eleito.

Jair Bolsonaro alegou que o depósito na conta de sua esposa era referente ao pagamento de parte de um empréstimo feito a Fabrício, mas até agora o presidente eleito não comprovou essa transação. É importante ressaltar que Bolsonaro, se envolvido no esquema, poderá responder criminalmente, mesmo após empossado na Presidência.

Os investigadores trabalham com a suspeita de que o ex-assessor fosse o responsável por recolher parte dos salários de funcionários do gabinete do ainda deputado estadual Flávio Bolsonaro, prática comum no Legislativo e conhecida como “sistema gafanhoto”, pois come parte da folha de pagamento.

Caso essa suspeita seja confirmada ao final das investigações, o governo Bolsonaro começará com um escândalo para chamar de seu. O que servirá de combustível para reforçar o vozerio da oposição, a partir de 1º de fevereiro.