Ex-assessor de Flávio Bolsonaro alega “urgência médica” e adia depoimento; caso não pode ser esquecido

Com a polêmica que se formou a partir da decisão do ministro Marco Aurélio Mello, do Supremo Tribunal Federal (STF), que em caráter liminar autorizou a soltura de presos com condenação em segunda instância, a opinião pública não deu a devida atenção ao escândalo envolvendo Fabrício de Queiroz, o ex-assessor parlamentar de Flávio Bolsonaro que, até prova em contrário, parece ter se especializado no milagre da multiplicação de cédulas.

Flagrado pelo Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf), na esteira da Operação Furna da Onça, em movimentação bancária considerada atípica, Fabrício estava desaparecido desde que o imbróglio foi revelado pelo jornal “O Estado de S. Paulo”, mas deveria prestar depoimento ao Ministério Público do Rio de Janeiro na tarde desta quarta-feira (19), quando esclareceria o caso que vem chacoalhando a vida da família Bolsonaro.

Fabrício de Queiroz, que empregou vários familiares no gabinete de Flavio Bolsonaro e recebia na sua conta bancária parte do salário dos servidores que trabalhavam na Alerj para o agora senador eleito, passou os últimos dias reunido com advogados e um contador, possivelmente para construir um enredo minimamente convincente e capaz de não comprometer a família do futuro presidente da República.

Como já era esperado, Fabrício não compareceu ao depoimento, sob a alegação de “inesperada crise de saúde”. Pelo foi essa a justificativa apresentada por seus advogados que solicitaram o agendamento do novo depoimento para a próxima sexta-feira (21). É importante ressaltar que o ex-assessor poderá exercer o direito ao silêncio (CF, artigo 5º, inciso LXIII; Código de Processo Penal, artigo 186), o que fermentará ainda mais o caso que aponta na direção do peculato (Código Penal, artigo 312).

Que Fabrício de Queiroz valer-se-ia de todas as estratégias para empurrar ao máximo seu depoimento já era sabido, mas faz-se necessário ressaltar que Flávio Bolsonaro deve explicações à sociedade, mesmo que ele alegue desconhecer o assunto envolvendo seu ex-assessor.


O senador eleito pelo PSL fluminense disse, logo após a divulgação do escândalo, que havia conversado com o ex-assessor e que dele ouvira “explicação plausível” para o caso. Dias depois, Flávio usou sua conta no Facebook para afirmar que não poderia discorrer sobre um assunto que desconhece. Ora, só mesmo um desajustado é capaz de ouvir “explicação plausível” sobre assunto que desconhece.

Não obstante surgiu a informação de que Fabrício de Queiroz tinha atividades paralelas, como a venda de carros usados e de bijuterias. Na sequência, Flavio Bolsonaro declarou que seu gabinete na Alerj “não é um quartel” e que vê com naturalidade o fato de seus assessores terem atividades paralelas. Ou seja, os capítulos da trama foram combinados e começaram a se encaixar.

Farsa à parte, Fabrício de Queiroz precisará de um enredo mirabolante para explicar o repasse de recursos financeiros por parte de servidores do gabinete de Flávio Bolsonaro. De igual modo, terá de recorrer à criatividade extrema para justificar o depósito no valor de R$ 24 mil feito na conta bancária de Michelle Bolsonaro, esposa do presidente da República eleito.

Jair Bolsonaro disse, logo após a eclosão do escândalo, que o depósito feito por Fabrício era referente ao pagamento de parte de um empréstimo (R$ 40 mil) que fizera ao amigo de mais de quarenta anos. Até o momento, Bolsonaro não comprovou o tal empréstimo nem de que forma foi feito. Para quem, durante a campanha presidencial, prometeu acabar com a velha política, Jair Bolsonaro é, pelo menos por enquanto, a “fulanização” da farsa.

Não se trata de duvidar da idoneidade de Jair Bolsonaro, mas é preciso que o presidente eleito agarre-se ao dito popular sobre Pompeia Sula, a segunda esposa do imperador romano Júlio César, a quem não basta ser honesta, mas parecer como tal.

Tomamos como exemplo o caso do caseiro Francenildo Costa, o Nildo, que logo após denunciar o então ministro Antonio Palocci Filho foi acusado de ter recebido dinheiro do PSDB para incriminar o outrora titular da Fazenda. Nildo não demorou para provar sua inocência, colocando à disposição das autoridades o comprovante de um depósito feito por seu pai, um empresário do Piauí, em conta que ele mantinha na Caixa Econômica Federal.

Se Bolsonaro desconhece o dito popular sobre Pompeia Sula, que surgiu por ocasião do divórcio de Júlio César, que ao menos siga o exemplo do correto e corajoso caseiro Nildo.