Em pleno verão, o inferno

(*) Carlos Brickmann

Azul e rosa, Força Nacional no Ceará, novos parâmetros da Previdência, privatização da Eletrobras, isso é para os fracos. A grande sensação deve começar na semana que vem, quando Antônio Palocci, ministro da Fazenda de Lula, chefe da Casa Civil de Dilma, cuja delação premiada atingiu em cheio o PT, volta a depor, agora sobre fundos de pensão. O depoimento deve ser conduzido pelo procurador Frederico Siqueira Ferreira, da força-tarefa que investiga irregularidades nos fundos de pensão das estatais.

As investigações se concentram no Funcef (Caixa Federal), Previ (Banco do Brasil), Petros (Petrobras) e Postalis (Correios). Supõe-se (e é isso que se pesquisa) que haja fraudes somando algo como R$ 10 bilhões. Palocci, figura de proa em dois governos petistas, atuando durante muito tempo exatamente na área financeira, tem condições de, em muitos casos, desfazer as dúvidas dos investigadores. Há negociações entre sua defesa e os procuradores para que seja feita outra delação premiada.

Palocci foi condenado a doze anos; cumpriu dois e, feita a delação premiada, passou à prisão domiciliar, com tornozeleira. Que benefício pode obter com nova delação? Talvez – esse deve ser o ponto básico da discussão entre promotores e advogados – livrar-se também da tornozeleira. Que sabe das coisas, sabe; já disse certa vez ao então juiz Sérgio Moro que o que tinha a contar obrigaria a Operação Lava Jato a ter mais um ano de trabalho.

Dias de medo

Palocci faz muita gente tremer. Mas, no Rio, o grande temor de políticos é que o ex-governador Sérgio Cabral consiga chegar a um acordo de delação premiada. Parece incrível que, depois de tudo o que foi descoberto, ainda haja coisas que Cabral possa contar; mas, para ele, é a única saída, já que está condenado a mais de 200 anos de prisão. E Cabral não está sozinho: se resolver contar o que sabe (e que o público ainda não sabe), é provável que seu vice, Luiz Fernando Pezão, também conte sua parte. Admite-se que, perto de Cabral, Pezão, por mais malfeitos que tenha cometido, joga no dente de leite.

Mas, no caso, até o leite e o dentista podem ter sido superfaturados. Há pânico entre os aliados políticos e empresariais dos dois políticos.

Voa, dinheiro! 1

Por que Bolsonaro pensa em acabar com a Justiça do Trabalho? Pelo custo: a Justiça do Trabalho tem pouco menos de 10% das unidades judiciárias do país, mas consome 20% da verba. São R$ 85 bilhões no total, dos quais a Justiça do Trabalho gasta R$ 17 bilhões. Justiça do Trabalho existe numa série de países, não apenas aqui, mas lá fora é mais barata.

Voa, dinheiro! 2

Números oficiais, levantados pelo Novo Jornal, de Natal: os espantosos 50 maiores salários do Rio Grande do Norte (pagos em junho). O maior foi de R$ 179.887,06, pago a uma desembargadora federal do Tribunal Regional do Trabalho. O menor, de R$ R$ 40.185,15, foi pago a uma juíza de terceira entrância, do Tribunal de Justiça. Mesmo o menor é mais alto que o teto do funcionalismo público, o pago aos ministros do Supremo Tribunal Federal.

Todos, sem exceção, trabalham na área do Direito: juízes, promotores, desembargadores – e um solitário técnico judiciário, com R$ 52.312,17.

Voa, dinheiro! 3

Por que Bolsonaro ordenou uma varredura nos últimos atos do governo Temer? Uma pista: a ministra dos Direitos Humanos. Damares Alves, suspendeu um convênio (sem licitação) entre a Funai, Fundação Nacional do Índio, e a Universidade Federal Fluminense, no valor de aproximadamente R$ 45 milhões. Foi assinado tão em cima da hora que a publicação no Diário Oficial ocorreu em 2 de janeiro de 2019, já no novo governo.

Objetivo do convênio: elaborar um Projeto de Fortalecimento Institucional da Funai. E também criar uma criptomoeda, ou moeda virtual, um tipo de bitcoin, para se transformar no dinheiro dos índios.

Voa, dinheiro! 4

O presidente Bolsonaro tem uma ótima oportunidade de poupar dinheiro público. Temer nomeou Carlos Marun, seu chefe da Casa Civil, conselheiro de Itaipu. São R$ 27 mil mensais, para participar de uma reunião de dois em dois meses. Bolsonaro, por algum motivo, resolveu deixar pra lá.

Voa, dinheiro! 5

O Museu de Arte do Rio, MAR, apresenta (com dinheiro público) uma exposição, “Arte Democracia Utopia, quem não luta tá morto”, composta por bandeiras do MST, CUT e MTSC, faixas “Amanhã Ocupação” e pichações “A Cidade é Sua. Ocupe-a”. A exposição começou em setembro, um mês antes das eleições. Não há, na exposição, menção a qualquer outra tendência política. O MAR é dirigido por uma ONG, Instituto Odeon, que recebe R$ 12 milhões por ano da Prefeitura pelo serviço.

Como diz o letreiro abaixo do leão da Metro, “Ars Gratia Artis” – a Arte pela Arte.

(*) Carlos Brickmann é jornalista e consultor de comunicação. Diretor da Brickmann & Associados, foi colunista, editor-chefe e editor responsável da Folha da Tarde; diretor de telejornalismo da Rede Bandeirantes; repórter especial, editor de Economia, editor de Internacional da Folha de S. Paulo; secretário de Redação e editor da Revista Visão; repórter especial, editor de Internacional, de Política e de Nacional do Jornal da Tarde.