João Doria estreou como governador sem explicar escândalo da PPP da Iluminação da capital paulista

    Que João Agripino da Costa Doria Junior (PSDB), governador de São Paulo, é um gazeteiro contumaz todos sabem, mas é preciso ser vigilante para que alguns temas não caiam na vala do esquecimento, como há séculos acontece nessa barafunda em que se transformou o Brasil.

    Durante a campanha rumo ao Palácio dos Bandeirantes, sede do Executivo paulista, Doria endureceu o discurso, acrescentando ao palavrório pílulas de moralismo político, como se sua passagem pela Prefeitura paulistana não tivesse sido marcada por escândalos.

    O agora governador de SP atacou não apenas seus adversários de campanha, em especial Márcio França, mas também o ex-presidente Lula, que cumpre pena de prisão por corrupção e lavagem de dinheiro no âmbito da Operação Lava-Jato. Os eleitores de fora da cidade de São Paulo que viram e ouviram os coléricos discursos de Doria sequer imaginavam que na capital dos paulistas ocorrera um escândalo de corrupção de fazer inveja a criminosos profissionais.

    Com valor nominal de R$ 6,9 bilhões e prazo de vinte anos, a PPP da Iluminação Pública de São Paulo tinha como meta a substituição das lâmpadas e modernização da iluminação da maior cidade brasileira, mas um esquema de corrupção no departamento responsável por acompanhar o processo licitatório colocou tudo a perder.

    O Departamento de Iluminação Pública de São Paulo (Ilume), que deveria atuar de forma isenta no caso da PPP, agiu nos bastidores para favorecer o consórcio FM Rodrigues/Consladel, que ao final, depois de muitas irregularidades por parte da municipalidade, foi declarado vencedor, em prejuízo do consórcio Walks.


    Durante a disputa, o então prefeito João Doria sabia de todas as irregularidades cometidas pela Prefeitura no âmbito do processo licitatório, mas nada fez para impedir as ilegalidades. O que de chofre sugere o crime de prevaricação. Doria não pode alegar desconhecimento, pois todos as irregularidades foram largamente noticiadas pela grande imprensa.

    O esquema de corrupção no Ilume veio à tona, sendo denunciado ao Ministério Público de São Paulo com provas contundentes e incontestáveis, não restando ao então prefeito outra saída, que não a demissão dos envolvidos no escândalo. A Justiça paulista determinou na ocasião a imediata suspensão do contrato da PPP, assinado com o consórcio declarado vencedor, mas recentemente determinou sua anulação.

    Ex-primeira-dama da cidade

    A ex-primeira-dama da capital paulista, Bia Doria, acabou arrastada para o escândalo da PPP, pois o Ministério Público recebeu, entre as provas, um e-mail que comprova o uso de dinheiro público na reforma da iluminação do palco do santuário Theotokos, comandado pelo popular padre Marcelo Rossi.

    O serviço foi executado pela empresa FM Rodrigues, que era responsável pela manutenção da iluminação da cidade de São Paulo e liderou o consórcio vencedor da PPP, mas é acusada de pagar propina no Ilume para ser favorecida no processo licitatório.

    Bia Doria foi convocada pelo MP para depor na qualidade de testemunha e negou ter solicitado a instalação de equipamentos de iluminação na parte interna do templo do padre Marcelo.

    O depoimento da ex-primeira-dama paulistana foi desmontado pelas declarações do técnico de iluminação do templo, Antonio Nunes de Miranda Sobrinho, que em junho do ano passado disse aos promotores que Bia Doria deu ordem para instalar luzes de LED, um equipamento para efeitos e uma mesa para controlar a intensidade da iluminação.

    O UCHO.INFO tem cópia do mencionado e-mail e uma gravação em que um então servidor do Ilume, exonerado na esteira do escândalo de corrupção, dá ordens por telefone para que funcionários da FM Rodrigues executem o serviço no templo religioso.