Battisti: chefe do GSI falta com a verdade ao negar que Bolsonaro está “capitalizando a extradição”

Na vida há situações que dispensam explicações. Porém, na política o oportunismo exacerbado exige dos seus atores um comportamento marcado pelo falso bom-mocismo, como se a opinião pública fosse desprovida de massa cinzenta.

Neste domingo (13), o presidente Jair Bolsonaro reuniu-se com os ministros Augusto Heleno (GSI), Sérgio Moro (Justiça e Segurança Pública) e Ernesto Araújo (Relações Exteriores) para tratar da prisão do terrorista italiano Cesare Battisti e dos detalhes de sua extradição à Itália, onde está condenado à prisão perpétua por conta de crimes cometidos quando integrava o grupo Proletários Armados pelo Comunismo (PAC).

Após o encontro, o general da reserva Augusto Heleno conversou com os jornalistas e afirmou que Battisti passará pelo Brasil, pois, segundo o chefe do Gabinete de Segurança Institucional da Presidência (GSI), o avião da Polícia Federal (PF) que buscará o italiano na Bolívia não tem autonomia para voar direto até a Europa.

O ministro disse que Bolsonaro está feliz com a prisão de Cesare Battisti, mas negou que o presidente da República esteja “capitalizando a extradição”. “Não quer capitalizar nada. Quer botar para fora um bandido. Nada além disso”, declarou Augusto Heleno.

É nesse ponto que torna-se desnecessário explicar o inexplicável. Além disso, emprestar algum tipo de prestígio a um governo populista que defende o radicalismo é no mínimo irresponsabilidade, não sem antes colocar em risco o próprio currículo.

Não se trata de questionar as crenças ideológicas do general reformado Augusto Heleno, mas afirmar que Bolsonaro não está a capitalizar politicamente com a prisão e a extradição de Battisti é excesso de ingenuidade.


O presidente da República, que continua em campanha, publicou em sua conta no Twitter comentário jocoso sobre a prisão de Cesare Battisti que desmente o chefe do GSI. “Finalmente a justiça será feita ao assassino italiano e companheiro de ideais de um dos governos mais corruptos que já existiram no mundo (PT)”, escreveu Bolsonaro na rede social.

Não obstante, um dos filhos do presidente, o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), escreveu no Twitter: “Assassinou policial, matou pai na frente do filho, atirou e deixou homem paralítico, foi condenado a prisão perpétua por quatro homicídios qualificados e fazia parte do grupo terrorista de esquerda na Itália PAC (Proletários Armados para o Comunismo). Ciao Battisti, a esquerda chora!”.

Ora, se o comportamento de Bolsonaro e do filho não é capitalização política, alguém precisa urgentemente explicar o que é. Talvez o general Augusto Heleno pudesse assumir esse desafio. Em primeiro lugar, a responsabilidade de transportar Battisti para a Itália é do governo de Roma, não do Brasil. Portanto, a desculpa de que o avião da PF que irá buscar o terrorista italiano não tem autonomia para fazer um voo direto da Bolívia à Europa não convence. Aliás, o governo italiano informou, logo após a prisão de Battisti, que já providenciara o envio de uma aeronave à Bolívia para buscar Battisti.

Em segundo lugar, Bolsonaro precisa faturar politicamente com a extradição de Cesare Battisti, pois a autorização de devolvê-lo ao governo italiano foi do antecessor, Michel Temer. Isso tirou de Jair Bolsonaro a oportunidade de fazer uma “fuzarca” ideológica, principalmente porque, após sua eleição, prometeu presentear o governo italiano com a extradição de Battisti.

Alguém precisa avisar a Jair Bolsonaro que a campanha eleitoral acabou em 28 de outubro e desde 1º de janeiro seu papel é de chefe de Estado. Nove entre dez brasileiros sabem que sua competência para o cargo flana ao rés do chã, mas não se pode aceitar um espetáculo pífio atrás do outro, apenas porque seu único triunfo foi derrotar o PT. Carente e todos os sentidos, o Brasil precisa muito mais do que uma guerra ideológica rasteira e colérica.

A população que se prepare, já que a ópera bufa vista nos primeiros dez dias de governo há de se repetir. Sendo assim, lampejos populistas, marcados pelo oportunismo, como o que envolve Cesare Battisti, serão recorrentes. Até porque, quem tem nada a entregar precisa inventar o tempo todo.