Hasta la vista, bambino

(*) Carlos Brickmann

O primeiro-ministro comunista da Alemanha Oriental, Erich Honecker, foi deposto. Pediu asilo a seus aliados da União Soviética, tão comunistas quanto ele. Os soviéticos o devolveram ao Ocidente para ser julgado.

Césare Battisti buscou a proteção de Evo Morales, seu aliado de esquerda. Só que uma coisa é ser de esquerda na época dos vizinhos bolivarianos; outra, hoje. As coisas mudaram. E Césare Battisti não viu.

Acabaram com a prisão na Bolívia os 38 anos de fuga de Battisti à pena de prisão perpétua. Mas sua história está longe de ser esclarecida. Quem pagou as despesas de Césare Battisti nestes 38 anos? Quem pagou seus quase 12 anos de Brasil? A venda de seus livros? Seria caso quase único.

Quem é, de verdade, Césare Battisti, para motivar o envolvimento de tanta gente, em tantos lugares do mundo, nas campanhas em seu favor? Apenas membro do grupo terrorista Proletários Armados pelo Comunismo, e sem qualquer relevância, já que diz nunca ter participado de terrorismo?

Preso na Bolívia por policiais bolivianos e agentes italianos, Battisti foi enviado direto à Itália, sem passar pelo Brasil. Ao chegar à Itália, disse uma frase curiosa: “Agora sei que vou para a prisão”. Por que apenas naquele momento, já na Itália, ele se convenceu de que iria para a prisão? Estaria tão convencido de que brasileiro é muito bonzinho que, mesmo com a extradição decidida por Temer, mesmo sendo Bolsonaro o sucessor, com o STF contra ele, daria um jeitinho de se livrar? Quem saberá as respostas?

Completando o Governo

Bolsonaro escolheu dois novos auxiliares de excelente reputação: um é o porta-voz do Governo, outro é o líder do Governo na Câmara. Vão dar certo? Condições, têm. Mas tudo depende da coerência governamental.

O gato de Alice

O porta-voz do Governo, general Rego Barros, foi bem recebido: teve ótimo desempenho como chefe da Comunicação do Exército, entende-se com jornalistas e com ministros como o general Augusto Heleno. Mas há um problema: como dizia o Gato, em Alice no país das maravilhas, o caminho certo depende de para onde se queira ir. Se o presidente anuncia medidas que os assessores desmentem, se os assessores anunciam medidas que Bolsonaro desaprova, não há porta-voz que consiga fazer seu trabalho.

Líder e amigo

A outra escolha correta de Bolsonaro é de um político novo: o Major Vitor Hugo, deputado federal eleito pelo PSL de Goiás. Os jornais dizem que ele é bem aceito por vários militares do Governo, e é; mas sua escolha vem de cima. É velho amigo de Bolsonaro. Tem bom currículo primeiro colocado nas academias militares, advogado, consultor legislativo (primeiro lugar no concurso) na Câmara. Promete reconstruir as relações entre Executivo e Legislativo, esquecendo o toma lá dá cá. Tarefa pesada: passa por sua articulação, por exemplo, a reforma da Previdência.

Preço melhor alguém faz?

A revista IstoÉ Dinheiro tem uma pauta-bomba nas mãos: um processo em que o fundador da gigante Marabraz e irmão mais velho dos demais sócios da empresa diz com todas as letras que ele e os irmãos cometeram fraudes para lesar sua esposa, de quem se divorciava. Com as fraudes, diz, sua parte nos bens do grupo foi transferida ficticiamente para os irmãos, prejudicando esposa e filhos. E acabou sendo ele próprio prejudicado.

É briga de gente grande: os irmãos que controlam o grupo contrataram o advogado Nelson Nery, professor, autor e organizador de quase cem livros, parecerista de prestígio – segundo o Consultor Jurídico, cobra algo como R$ 300 mil o parecer. O irmão que faz a denúncia de fraude contratou o advogado André Frossard dos Reis Albuquerque, mestre em Direito Empresarial pela New York University; e a Átina, proprietária da marca Marabraz, da qual são sócios os dois filhos do denunciante, tem como advogada Lilia Frankenthal, da Comissão de Direito Penal Econômico da OAB/SP. O denunciante e seus filhos por enquanto estão vencendo: entre outras coisas, a Justiça acatou que, em princípio, até agora suas alegações não foram rebatidas, e ordenou aos atuais controladores que arrolem todos os seus valores e propriedades, para proteger o patrimônio em disputa. Se não houver o arrolamento, nos termos exigidos, a multa é de R$ 1,4 milhão por dia. A próxima edição de IstoÉ Dinheiro sai amanhã.

Retrato do Brasil

O governador de Goiás, Ronaldo Caiado, doou dois carros da frota do palácio ao Hospital Materno Infantil, em Goiânia. Os carros são Equus, os Hyundai construídos para concorrer com Mercedes, BMW, Lexus, Audi. Os dois, diz Caiado, serviam para transportar o governador Marconi Perillo e esposa. Espera-se obter, com o leilão dos dois carros, algo como R$ 650 mil. Não resolve o problema todo do Hospital Materno Infantil, mas ajuda.

(*) Carlos Brickmann é jornalista e consultor de comunicação. Diretor da Brickmann & Associados, foi colunista, editor-chefe e editor responsável da Folha da Tarde; diretor de telejornalismo da Rede Bandeirantes; repórter especial, editor de Economia, editor de Internacional da Folha de S. Paulo; secretário de Redação e editor da Revista Visão; repórter especial, editor de Internacional, de Política e de Nacional do Jornal da Tarde.