Eleição de Davi Alcolumbre para a presidência do Senado é vitória de Pirro do governo Bolsonaro

A eleição de Davi Alcolumbre (DEM-AP) para a presidência do Senado está sendo comemorada pelo governo, mas somente os despreparados políticos não enxergam nesse episódio uma vitória de Pirro. A chegada de Alcolumbre ao comando do Senado e, por consequência, do Congresso Nacional é obra do ministro-chefe da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, cuja atuação mostra que o governo Bolsonaro interferiu de maneira escandalosa no processo eleitoral, ao contrário do que vinha afirmando o presidente da República.

Ao contrário do que têm alardeado os seguidores de Jair Bolsonaro, não foi o movimento contra o senador Renan Calheiros que prevaleceu, mas a miopia política do Palácio do Planalto, que continua não conseguindo enxergar o óbvio. Como afirmamos ao longo de anos a fio, o currículo de Renan fala por si só e dispensa apresentações adicionais, mas é preciso coerência política e noções básicas de aritmética para concluir que Davi Alcolumbre não representa garantia alguma ao governo.

Dos 42 votos que conquistou na conturbada eleição à presidência do Senado, Alcolumbre na melhor das hipóteses teve 25 a seu favor, sendo os outros 17 foram contra Renan Calheiros. O que não obrigatoriamente serão, de agora em diante, a favor do Palácio do Planalto.

Abusando do otimismo, Davi Alcolumbre conseguirá reunir no máximo 35 votos a favor de matérias de interesse do governo apresentadas por meio de emendas constitucionais. Considerando que alterar o texto constitucional exige quórum qualificado (três quintos dos senadores), ou seja, 49 senadores e em duas votações, o novo presidente do Senado terá dificuldades para garantir ao governo os votos necessários.


Isso posto, caberá ao Planalto – talvez ao próprio presidente Bolsonaro – entrar em cena para negociar com os senadores da oposição e evitar uma derrota que levaria o País a uma paralisia indesejada. Trata-se de tarefa árdua e extremamente difícil, principalmente por conta da polarização que migrou da campanha eleitoral para o governo. E Bolsonaro, que já deveria ter desfeito esse clima belicoso, continua a alimentar um ingrediente que só o prejudica.

Que Onyx Lorenzoni é um político trapalhão todos sabem, mas deixa-lo à solta para atropelar Renan Calheiros foi excesso de irresponsabilidade do governo. Não se trata de defender Renan, pois, como mencionado anteriormente, seu currículo impede qualquer defesa, mas tomando por base a difícil situação do País é preciso ser pragmático em termos políticos.

No campo do pragmatismo seria melhor deixar o movimento “Fora Renan” para daqui dois anos, permitindo que o alagoano presidisse o Senado no período em que o governo Bolsonaro teria sua prova de fogo, começando pela aprovação da reforma da Previdência, essencial para o ajuste fiscal.

Quem acompanha a política brasileira há anos sabe da peçonha de Renan Calheiros e dos velhos caciques emedebistas, mas ao mesmo tempo reconhece que é melhor ter o senador alagoano como falso aliado do que como um envenenado líder da oposição. Tivesse sido eleito presidente do Senado, Calheiros saberia como conter o bloco esquerdista quando da votação de matérias importantes para o País.

Com o resultado das eleições na Câmara dos Deputados e no Senado, o MDB, pela primeira vez em décadas, ficou sem cargos nas respectivas Mesas Diretoras. Isso significa que o partido terá de mostrar serviço, o que certamente se dará através de uma oposição ferrenha e sem piedade. A política é um jogo bruto e quem se dispõe a jogar precisa estar preparado para tudo.