Relação entre Bolsonaro e Mourão continua estremecida, mas Planalto entrou no modo “faz de conta”

O Palácio do Planalto entrou no modo “faz de conta”, como forma de evitar uma crise institucional que começava a fermentar com rapidez muito maior do que a desejada. Que o presidente Jair Bolsonaro é desprovido de competência para o cargo e não tem voz de comando, em especial em relação aos filhos, todos sabem, mas não se pode ignorar o fato que o capitão reformado insiste em provocar polêmicas, quando deveria se preocupar com assuntos relacionados à governança.

Internado no Hospital Albert Einstein, em São Paulo, onde se recupera da cirurgia para a retirada da bolsa de colostomia e a reconstrução do trânsito intestinal, Bolsonaro afastou-se da Presidência por apenas 48 horas, possivelmente porque sua desconfiança em relação ao vice Hamilton Mourão tem sido alimentada pelos filhos e por assessores mais próximos. Sendo assim, o presidente preferiu deixar o País em compasso de espera, evitando passar a Mourão o comando interino do governo.

Hamilton Mourão, que demonstrou nos últimos dias disposição de sobra para dialogar com todas as frentes, inclusive com as rejeitadas por Bolsonaro durante a corrida presidencial, não agiu por conta própria, como informou o editor do UCHO.INFO no programa “QUE PAÍS É ESSE?”, mas representou a vontade da maioria dos generais palacianos e das Forças militares.


Ao contrário do que pensam os integrantes do círculo mais próximo de Bolsonaro, não está em marcha um plano que contempla ato de traição por parte de Mourão, mas é preciso garantir ao País governabilidade em qualquer situação, inclusive nos momentos de ausência do presidente da República. A resistência de Bolsonaro em transferir ao vice o comando da nação em determinados momentos, como, por exemplo, o de sua internação, demonstra não apenas a sua desconfiança, mas a ingerência de pessoas alheias ao governo em assuntos palacianos.

A continuar dessa maneira, ou seja, predominando a teimosia de Jair Bolsonaro e a intromissão de terceiros, em especial dos filhos do presidente, a situação no Palácio do Planalto tende a piorar, mesmo que ao vice tenha sido recomendado algumas manifestações públicas de lealdade, o que não significa que tenha ocorrido o contrário.

O Brasil vive um momento de incertezas e não pode continuar nesse compasso de espera apenas porque teorias da conspiração fermentam nos bastidores. É necessário mostrar à sociedade disposição por parte do governo na busca de soluções para os muitos problemas existentes, o que exige boa relação com o Congresso. Ou seja, os parlamentares precisam confiar em um governo, cujo presidente desconfia de tudo e todos, além de ser influenciado diuturnamente pelos filhos.

Diante desse cenário, ou Bolsonaro muda a maneira de governar, se é que até agora fez isso em algum momento, ou terá de aceitar um papel decorativo em nome da governabilidade a ser exercida por quem entende do assunto. Transformar o governo de um país em assunto a ser discutido em família é querer desdenhar da capacidade de reação da sociedade.