Ao dizer que reforma da Previdência será justa, Bolsonaro mostra desconhecer a realidade do País

Em pronunciamento em cadeia nacional de rádio e TV, na noite desta quarta-feira (20), o presidente Jair Bolsonaro, ao defender a proposta de reforma da Previdência entregue na manhã de hoje ao Congresso Nacional, mostrou desconhecer a dura realidade do País que prevalece em muitas cidades. E mais uma vez o presidente faltou com a verdade ao afirmar que a reforma será boa e justa.

“Estamos determinados a mudar o rumo do nosso País”, disse Bolsonaro. “Encaminhamos ontem ao Congresso um pacote anticrime e hoje iniciamos o processo de criação de uma nova Previdência”, continuou.

Segundo o presidente, “é fundamental equilibrarmos as contas do País para que o sistema não quebre, como já aconteceu com outros países e em alguns Estados brasileiros”.

Bolsonaro destacou em seu discurso: “precisamos garantir que, hoje e sempre, todos receberão seus benefícios em dia e o governo tenha recursos para ampliar investimentos na melhoria de vida da população e na geração de empregos”.

“A nova Previdência será justa para todos, sem privilégios. Ricos e pobres, servidores públicos, políticos ou trabalhadores privados, todos seguirão as mesmas regras de idade e tempo de contribuição. Também haverá a reforma dos sistemas de proteção social dos militares”, disse.

“Respeitaremos as diferenças, mas não excluiremos ninguém. E com Justiça: quem ganha mais, contribuirá mais, quem ganha menos, contribuirá com menos ainda”, acrescentou Bolsonaro.

“Estou convicto que nós temos um pacto pelo País e que, juntos, cada um com sua parcela de contribuição, mudaremos nossa história, com mais investimentos, desenvolvimento e mais empregos”, concluiu o presidente.


Colocar sobre as costas dos mais pobres e desamparados a conta de governos populistas e irresponsáveis é um ato de desumanidade, não sem antes expor a disposição de Bolsonaro de sacrificar os trabalhadores que sequer têm condições de cumprir as regras da nova Previdência.

Para exemplificar a falta de sensibilidade da equipe econômica comandada pelo ministro Paulo Guedes, a proposta da reforma da Previdência prevê o pagamento de um benefício de R$ 400 a partir dos 60 anos para idosos que comprovarem situação de “miserabilidade”. E a comprovação da situação de miserabilidade será mais rígida. Atualmente, os que se enquadram nessa condição recebem um salário mínimo. No novo modelo de Previdência, somente o idoso com 70 anos em situação de miserabilidade poderá receber o equivalente a um salário mínimo. Resta saber quantos brasileiros nessa condição conseguem chegar aos 70 anos.

Outro ponto da proposta que foge da realidade brasileira é o que trata da aposentadoria do trabalhador rural. O projeto da nova Previdência prevê que o trabalhador rural contribua com pelo menos R$ 600 por ano para faz jus à aposentadoria.

Na edição desta quarta-feira do programa “QUE PAÍS É ESSE?”, apresentado pelo jornalista Ucho Haddad, um advogado maranhense, que advoga para trabalhadores rurais e pescadores da cidade de Viana (MA), disse que o valor sugerido pelo governo na proposta (R$ 50 mensais) é uma utopia. De acordo com o advogado, os trabalhadores rurais mal conseguem pagar R$ 20 por mês para garantir a aposentadoria.

Se para muitos brasileiros soa como absurdo contestar uma diferença de R$ 30, é preciso conhecer a difícil realidade dos estados mais pobres da federação antes de qualquer crítica. Exigir de um trabalhador rural o desembolso de R$ 50 mensais chega a ser um escárnio, pois a depender da situação será preciso escolher entre a aposentadoria e a alimentação.

Que os “Chicago Boys” liderados por Paulo Guedes sequer imaginam o que acontece além dos gabinetes de Brasília já era esperado, mas é preciso conhecer a realidade nacional antes de enviar propostas ao Congresso com o objetivo de reduzir gastos e alcançar o tão sonhado equilíbrio fiscal.