Ao falar sobre aborto, Damares Alves insiste em impor pensamento utópico, conservador e ultrapassado

Dias após ter sua eleição confirmada nas urnas, o presidente Jair Bolsonaro disse que formaria uma equipe de governo com base na competência. Desde o início oficial do governo, em 1º de janeiro, o que temos visto é um festival de bizarrices, muitas delas levadas à cena a reboque do radicalismo ideológico.

Protagonista das seguidas lufadas de estupidez de um governo que ainda não mostrou a que veio, a ministra Damares Alves insiste em radicalizar cada vez mais o discurso, como se o País devesse retroceder para se encaixar no seu pensamento obtuso e ultrapassado.

Nesta quinta-feira (21), durante audiência pública na Comissão de Direitos Humanos do Senado, a ministra da Mulher, Família e Direitos Humanos disse que a discussão sobre aborto cabe ao Congresso Nacional e não ao Judiciário.

Tal declaração foi uma resposta da ministra quando questionada sobre ação em trâmite no Supremo Tribunal Federal (STF) que requer a liberação do aborto em caso de grávidas infectadas pelo zika vírus, que pode gerar crianças com microcefalia.

“O tema é do Congresso Nacional, e vou dizer: é do Congresso Nacional, não é do Judiciário. Esse tema não pode ser discutido no Judiciário”, afirmou Damares a um público formado por senadores e deputados.

Damares Alves criticou o que chamou de “ativismo” do Judiciário ao tratar de temas que, na sua opinião, cabem ao Legislativo, por ter sido eleito pela população.

“Eu insisto nisto: é uma preocupação de todos nós com o ativismo no Judiciário, usurpando em muitas vezes o papel do Congresso Nacional, o poder do Congresso Nacional”, disse.


A ministra vale-se do oportunismo ao fazer tal declaração, pois sabe que a atual formação do Congresso favorece a não aprovação da liberação do aborto e outras pautas que são alvo de recorrentes críticas da chamada “bancada da Bíblia”. Se Damares Alves quer fazer pregação, que procure o local adequado, mas não ouse impor usa crença a partir do cargo de ministra de Estado, que, é bom salientar, é passageiro. Além disso, o Estado é laico.

A ministra alegou que pesquisas de opinião mostram que o povo brasileiro não quer a legalização do aborto, mas, sim, políticas de planejamento familiar.

“O tema tem que ser discutido aqui, porque vocês representam o povo. E o povo brasileiro não quer a legalização do aborto. As pesquisas estão aí mostrando, pesquisa sobre pesquisa, que o povo brasileiro não quer. O que o povo brasileiro quer? Políticas públicas de planejamento familiar. E, nesse sentido, nós vamos trabalhar. Nosso ministério vai trabalhar na busca e na construção de políticas públicas de planejamento familiar”, disse Damares Alves, a ministra que envergonha o Brasil e é alvo de chacota mundo afora.

Antes do final da audiência, Damares ressaltou ser contrária ao aborto em qualquer circunstância, mas lembrou que a legislação brasileira permite a prática no caso de estupro, anencefalia do feto e risco de vida para a mãe, e que a sua pasta “vai trabalhar dentro da legalidade”.

“Agora, não é papel do Ministério da Mulher militar contra ou a favor do aborto, não é papel. O tema é do Congresso Nacional”, disse. A ministra está equivocada, pois se a legislação define os casos em que o aborto é permitido, não cabe ao Congresso definir o que possível. Damares só adota esse discurso “politicamente correto” porque sabe que o Parlamento, dominado por evangélicos, é capaz de tudo em termos de conservadorismo retrógrado.

Questionada sobre a possibilidade de sua opção religiosa interferir na condução do ministério, Damares negou, mas não se pode ignorar que ao final do dia sempre ocorre um “quase” culto no gabinete da ministra.

“Em nenhuma das falas como ministra, a senhora vai encontrar uma vertente religiosa. A senhora pode ter ouvido muitas falas minhas que foram pinçadas dentro do templo, pregações em que eu nem sabia que estava sendo filmada. Em um mês como ministra, acho que os senhores não conseguiram ver em nenhum momento eu fazer proselitismo. É ministra lá, não uma pastora, mas uma ativista de direitos humanos”, respondeu Damares.