Irmã de milicianos do Rio de Janeiro assinou cheques da campanha de Flávio Bolsonaro ao Senado

O verniz do falso bom-mocismo do clã Bolsonaro começa a trincar na esteira de escândalos que têm tirado o sono do presidente da República, eleito para o cargo à sombra de um discurso moralizador e truculento contra o que durante a campanha ele classificou como “velha política”. Com o passar do tempo – e é pouco tempo – a verdade começa a emergir e a opinião pública aos poucos descobre que Jair Bolsonaro é “mais do mesmo”.

Depois do grotesco episódio que culminou com a exoneração de Gustavo Bebianno, não sem antes patrocinar a primeira crise política do governo, as preocupações do presidente Jair Bolsonaro voltam a apontar na direção de um dos seus filhos, o senador Flávio Bolsonaro (PSL-RJ), que está na proa de um escândalo multifacetado e que tem no leme o ex-assessor Fabrício Queiroz, que entrou na mira do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) por causa de movimentação bancária “atípica”.

Desde a divulgação do relatório do Coaf, Flávio Bolsonaro vem experimentando uma sequência de novos capítulos de um escândalo que causa pânico inclusive no generalato do Palácio do Planalto. Isso porque os desdobramentos do imbróglio são reveladores e podem respingar no governo Bolsonaro, principalmente pela proximidade do presidente com Fabrício Queiroz.

Além de ter empregado em seu gabinete na Assembleia Legislativa do Rio (Alerj) a mãe e a mulher de Adriano Magalhães da Nóbrega – chefe do “Grupo de Milicianos”, que dá as ordens na comunidade de Rio das Pedras, na Zona Oeste do Rio de Janeiro, e integrar o autodenominado “Escritório do Crime”, grupo de matadores de aluguel acusados da morte de Marielle Franco –, Flávio Bolsonaro (PSL-RJ) entregou suas contas de campanha ao Senado à irmã de outros dois criminosos.

Valdenice de Oliveira Meliga, que era lotada no gabinete de Flávio na Alerj, assinou cheques de despesas de campanha em nome do agora senador, de acordo com reportagem publicada pela revista “Isto É”.

Valdenice é irmã de Alan e Alex Rodrigues de Oliveira, presos, em agosto de 2018 na Operação Quarto Elemento, do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) e do Ministério Público do Rio de Janeiro.


A revista “Isto É” teve acesso a dois cheques assinados por Valdenice, em nome da campanha de Flávio: um de R$ 3,5 mil e outro de R$ 5 mil. Proprietária de uma empresa de produção de de eventos, a Me Liga Produções e Eventos, Valdenice recebeu de Flávio Bolsonaro procuração para administrar os gastos de campanha, de acordo com documento enviado à Justiça Eleitoral.

Alan e Alex, irmãos de Valdenice e presos na Operação Quarto Elemento, participaram de atos de campanha do então candidato a senador, antes da prisão. Em foto publicada em seu perfil no Instagram, em outubro de 2017, Flávio, que à época era deputado estadual, aparece ao lado dos irmãos Alan, Valdenice e Alex, e do pai, Jair Bolsonaro, com a seguinte mensagem: “Parabéns Alan e Alex pelo aniversário. Essa família é nota mil!!!”

Logo após a prisão de Alan e Alex, Flávio Bolsonaro enviou nota ao jornal “O Estado de S.Paulo” afirmando: “Eles são irmãos da Valdenice, que é um dos pilares do nosso trabalho de política aqui no Rio. Mas os irmãos dela não trabalham comigo. De vez em quando aparecem (nas agendas), mas não têm vínculo nenhum comigo”.

Coo se não bastasse a atuação de Valdenice, irmã dos milicianos, como tesoureira da campanha do agora senador, outra funcionária do gabinete de Flávio Bolsonaro na Alerj exerceu a função de primeira-tesoureira do PSL no Rio de Janeiro. Alessandra Cristina Ferreira de Oliveira fez, através da sua empresa, a Alê Soluções e Eventos Ltda, a contabilidade de 42 campanhas eleitorais do partido no estado.

Um dos cheques assinados por Valdenice de Oliveira Meliga, aos quais a “Isto É” teve acesso, no valor de R$ 5 mil, era destinado justamente à empresa de Alessandra. Ou seja, a responsável por distribuir os recursos do PSL fluminense recebia de volta parte desse dinheiro, como pagamento pelos serviços de contabilidade prestados por sua empresa. Segundo a revista, Alessandra recebeu, ao todo, R$ 55 mil das campanhas do PSL, tendo cobrado entre R$ 750 e R$ 5 mil de cada candidato do partido pela execução da contabilidade das respectivas campanhas.

A Alê Soluções foi constituída em maio de 2007. Segundo dados da Receita Federal, a empresa está localizada na Estrada dos Bandeirantes nº 11.216, em Vargem Pequena, mas o endereço registrado no Tribunal Regional Eleitoral é Avenida das Américas número 18.000 – sala 220 D, no Recreio dos Bandeirantes, mesmo endereço da sede do PSL.

Alessandra Oliveira foi procurada pela revista e descartou qualquer conflito ético no fato de ser, simultaneamente, tesoureira do PSL, funcionária de Flávio Bolsonaro e ter contratado a própria empresa para fazer a contabilidade das campanhas de candidatos do partido. Resumindo, a família Bolsonaro é realmente um espanto. E a epopeia está apenas começando.