Cúpula do governo Bolsonaro precisa combinar discurso sobre reforma da Previdência enquanto é tempo

Integrantes da cúpula do governo federal precisam urgentemente combinar o discurso em relação à reforma da Previdência, o que de certo modo evitaria vexames oficiais. Assim que o projeto da reforma foi apresentado a deputados e senadores, o ministro da Economia, Paulo Guedes, se apressou em dizer que qualquer mudança na proposta comprometeria a economia de R$ 1 trilhão projetada pelo governo ao longo de dez anos.

Se Guedes está certo no que diz ainda é cedo para afirmar, mas desde que a reforma da Previdência entrou no radar das discussões do governo o UCHO.INFO vem afirmando que a economia em uma década deve chegar no máximo a R$ 600 bilhões, sendo que nossa aposta é de R$ 500 bilhões. Não se trata de pessimismo ou torcida contra, como alegam os descontrolados devotos do presidente da República, mas de realismo em relação à política nacional e ao Congresso.

Ainda sobre a economia decorrente da reforma da Previdência, organismos internacionais e importantes veículos de comunicação especializados têm apostado na faixa entre R$ 500 bilhões e R$ 600 bilhões. Isso significa que, a se confirmar essa previsão, uma nova reforma será necessária dentro de no máximo vinte anos para manter a perseguição ao equilíbrio fiscal, que, é bom lembrar, não será alcançado facilmente.


O presidente Jair Bolsonaro, que acreditou ser sua eleição uma espécie de passaporte para um vale-tudo no Congresso, começa a cair no mundo real. Isso explica o fato de o chefe do Executivo ter admitido que o projeto da reforma da Previdência sofrerá cortes por parte dos parlamentares, que só não serão mais “cruéis” porque o governo cedeu ao “toma lá, dá cá”. Ou seja, Bolsonaro, que tanto criticou a “velha política”, teve de se render a ela. E se o projeto de reforma da Previdência sofrerá cortes, a economia será menor.

Ministro-chefe da Casa Civil, Onyx Lorenzoni disse, durante evento de um banco de investimento, em São Paulo, que no caso da reforma da Previdência a “cláusula pétrea” é a economia de R$ 1 trilhão.

“O que é inegociável é a gente conseguir chegar no 1 trilhão de economia em 10 anos. Isso é inegociável. Como esta fórmula vai ser trabalhada, isso é um espaço para que se possa conversar”, disse o chefe da Casa Civil. “A cláusula pétrea é ter a economia de 1 trilhão, no mínimo, porque isso nos dá a condição do equilíbrio fiscal”, completou.

Se para Paulo Guedes qualquer mudança no projeto comprometerá a economia projetada e se para Onyx Lorenzoni a meta de R$ 1 trilhão é “cláusula pétrea”, mas Bolsonaro diz que a proposta sofrerá cortes, o governo deve se preparar para duas situações difíceis: 1) contar a verdade aos brasileiros, 2) ampliar o balcão de negócios para aprovar a reforma. Mesmo assim, o projeto entregue por Bolsonaro ao Congresso sofrerá cortes.

O melhor que o governo poderia fazer, já que ainda não começou para valer, é reunir os envolvidos no projeto de reforma da Previdência e unificar o discurso, pois da forma como o tema vem sendo tratado dá a impressão que todos estão perdidos.