Desprovido de bom senso e órfão de sensibilidade, Bolsonaro determina comemoração do golpe de 64

O presidente Jair Bolsonaro determinou ao Ministério da Defesa que no próximo domingo (31) sejam realizadas nas unidades militares as “comemorações devidas” pelos 55 anos do golpe de 31 de março de 1964, data em que teve início a ditadura militar no Brasil, informou o porta-voz da Presidência, general Otávio Rêgo Barros.

Bolsonaro já aprovou a inclusão da data na ordem do dia das Forças Armadas, de acordo com Barros. Questionado sobre como serão feitas as comemorações, o porta-voz da Presidência disse que a decisão ficará a cargo de cada comando, sem dar mais detalhes.

“Aquilo que os comandantes acharem, dentro das suas respectivas guarnições e dentro do contexto, que devam ser feitas”, disse.

Desprovido de qualquer dose de sensibilidade e desconhecendo o significado de “bom senso”, Jair Bolsonaro é um amante do totalitarismo que durante o período eleitoral vestiu pele de cordeiro para disfarçar o lobo que sempre arreganhou os dentes para a democracia. E não agiria de maneira distinta depois de empossado no cargo de presidente da República.

A cúpula militar brasileira teria pedido discrição nas comemorações para evitar o acirramento das tensões políticas no país em meio aos debates sobre a reforma previdenciária no Congresso, o que mostra o comedimento e a responsabilidade dos generais palacianos, que por enquanto evitam a débâcle do pífio governo de Bolsonaro.

A data havia sido retirada do calendário oficial de comemorações do Exército em 2011 por determinação da ex-presidente Dilma Rousseff, que foi torturada durante a ditadura militar, período negro da história nacional. Agora, com Bolsonaro na Presidência e diversos militares ocupando cargos ministeriais, a volta do 31 de março ao calendário oficial do Exército estaria sendo avaliada pelas Forças Armadas.

Segundo o porta-voz da Presidência, Jair Bolsonaro não considera que houve um golpe militar em 31 de março de 1964. “Ele considera que a sociedade, reunida e percebendo o perigo que o País estava vivenciando naquele momento, juntou-se, civis e militares, e nós conseguimos recuperar e recolocar o nosso País num rumo, que salvo melhor juízo, se isso não tivesse ocorrido, hoje nós estaríamos tendo algum tipo de governo aqui que não seria bom para ninguém”, afirmou.


O presidente da República não tem bola de cristal, por isso não pode fazer qualquer conjectura sobre o que poderia estar acontecendo no Brasil caso os militares não tivessem tomado o Poder, evitando a instalação de uma ditadura comunista. Contudo, o período seguinte ao golpe foi marcado por covardia e truculência, o que invalida a descabida comemoração determinada por Bolsonaro.

O período da ditadura militar, que se estendeu de 1964 a 1985, teve início com a derrubada do governo do então presidente João Goulart, democraticamente eleito, e foi marcado por censura à imprensa, fim das eleições diretas, fechamento do Congresso Nacional, tortura de dissidentes e cassação de direitos.

Jair Bolsonaro, que sempre afirmou não ter sido uma ditadura o período de 21 anos de governos militares – esse discurso tosco e mentiroso lhe convém –, durante a votação do impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff chegou a homenagear o coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra, reconhecido pela Justiça de São Paulo como torturador durante o regime militar.

Ustra comandou, entre 1969 e 1974, o temido DOI-Codi (Destacamento de Operações de Informações do Centro de Operações de Defesa Interna), órgão de repressão da ditadura, em São Paulo, um verdadeiro centro de barbáries onde, sob o comando e as ordens do ídolo de Bolsonaro, morreram 50 pessoas classificadas pelos militares como adversários políticos e ideológicos.

A decisão do presidente da República gerou críticas por parte de políticos do PSOL e do PT, que afirmaram em redes sociais que comemorar o golpe militar mostra a mostra falta de apreço de Bolsonaro pela democracia e incentiva a retomada do terror da ditadura. O deputado federal Marcelo Freixo, do PSOL, escreveu em sua conta no Twitter que a decisão de Bolsonaro é típica de “fanáticos”.

Já deputados do PSL, partido de Bolsonaro, como o deputado federal Carlos Jordy, saíram em defesa do presidente. Jordy afirmou em sua conta no Twitter, em resposta a notícia do jornal O Globo, que o golpe se tratou de uma “contra-revolução” que evitou que o Brasil se tornasse um país semelhante a Cuba.

A decisão de Bolsonaro teve repercussão fora do País. Na Alemanha, por exemplo, os prestigiados jornais “FAZ” e “Tagesspiegel” questionaram como pode um presidente exaltar período marcado por tantas violações dos direitos humanos. (Com agências de notícias)