O jogo do vai-vem

(*) Carlos Brickmann

Que é que o presidente Bolsonaro ganha brigando com Rodrigo Maia, o presidente da Câmara? Nada: Bolsonaro já venceu as eleições, embora nem sempre pareça convencido disso, e não causa qualquer prejuízo a Maia, que só enfrentará as urnas em 2022. E que é que Bolsonaro perde? Nessa briga, em que ele provavelmente nem sabe por que entrou, arranja um adversário bem colocado para atrapalhar o andamento da reforma da Previdência, seu projeto-chave, sem o qual será difícil manter a economia do país em ordem.

Parece – na atual situação, nunca se sabe – que tanto Bolsonaro quanto Maia concluíram que a briga é ruim para ambos. Já houve sinais de boa vontade. Maia disse que talvez dê para votar até o projeto de segurança do ministro Moro ainda no primeiro semestre. Seu principal interlocutor, o ministro Paulo Guedes, que no início do dia tinha desistido de conversar com parlamentares, já ajuda a indicar o relator da reforma da Previdência,

O fato é que o Governo está perto de aprovar a reforma, com algumas mudanças ditadas pelo Congresso (que manteria a aposentadoria rural e o benefício de prestação continuada). Cerca de 300 parlamentares votam pela reforma – e aí não estão os 54 do PSL, partido de Bolsonaro, nem os oito do Novo, que por definição querem reduzir as despesas do Governo. São necessários 308 – há, portanto, margem até para traição, sem que o projeto caia. Se os twitters se calarem um pouco, a reforma pode andar rápido.

Guedes, articulador

Paulo Guedes não foi à reunião com deputados (acertou-se, agora, que irá em outra data), mas não parou o dia inteiro. Conversou por três horas com governadores, e deve levar-lhes em 30 dias um plano de recuperação econômica dos Estados. Confirmou presença amanhã na Comissão de Assuntos Econômicos do Senado, onde tratará do mesmo tema. Embora tenha falado de outros assuntos, pensa é na reforma da Previdência. Se não houver a reforma, de onde sairá o dinheiro para os Estados?

Hora H

As conversas voltaram a fluir em boa hora. Exatamente a hora em que o vice-presidente Hamilton Mourão recebe apoteótica homenagem na Fiesp, na presença de empresários que comandam mais de um trilhão de reais.

A grande frase

Do general Mourão, condenando excessos dos radicais, em frase citada pelo colunista gaúcho Fernando Albrecht (http://fernandoalbrecht.blog.br/): “Não se combate o comunismo com comunismo ao contrário”.

Cortinas de fumaça

Alguns dias de paz são suficientes para que as coisas engrenem. Dentro de pouco tempo o presidente Bolsonaro vai a Israel. Deve assinar acordos já acertados pelo ministro da Ciência, Marcos Pontes, em dessalinização e irrigação. Pode haver alguma surpresa, tipo transferência da Embaixada do Brasil para Jerusalém – um agrado ao primeiro-ministro Bibi Netanyahu, que logo depois enfrenta duras eleições. Durante esta viagem o noticiário cuida não das brigas entre bolsonaristas, mas dos acordos com Israel.

Outro debate

A deputada Joice Hasselmann anuncia um projeto que também ajudará a dividir os debates: eliminar a contribuição anual obrigatória dos advogados. Se desapareceu o imposto sindical, fazendo com que sindicatos e centrais vivam por conta própria, por que obrigar advogados a pagar OAB? São coisas diferentes, mas o projeto provocará muito barulho da Ordem.

Como é mesmo?

Temer, Moreira Franco e outros presos receberam habeas corpus, estão soltos, mas uma questão não foi esclarecida: aquele depósito em dinheiro de R$ 20 milhões num banco. Bancos são monitorados por câmeras, e seria interessante ver o tamanho do depositante capaz de carregar uns bons 50 kg de papel moeda dentro da mala. E como os seguranças deixaram entrar no banco um cavalheiro transportando a mala capaz de conter 50 kg?

Dia D

A TV Gazeta de São Paulo acaba de contratar o ex-governador Geraldo Alckmin para participar quinzenalmente do programa Todo Seu, de Ronnie Von, agora em novo horário: 13h30. A estreia é dia 1º de abril. Alckmin falará sobre saúde e qualidade de vida, alimentação saudável, importância da atividade fixa. Deve ser interessante: Alckmin é médico. Anestesista.

Dinheiro voa

Caro leitor, diga: por que o Detran precisa de propaganda? Tem concorrente? Pois o Detran de Goiás, nos últimos quatro anos do Governo de Marconi Perillo, PSDB, gastou em propaganda R$ 22,5 milhões por ano. Nestes mesmos quatro anos, o Governo goiano gastou no total algo como R$ 500 milhões em propaganda. O Ministério Público goiano já começou a agir: pede que o dinheiro gasto pelo Detran seja devolvido ao Tesouro.

(*) Carlos Brickmann é jornalista e consultor de comunicação. Diretor da Brickmann & Associados, foi colunista, editor-chefe e editor responsável da Folha da Tarde; diretor de telejornalismo da Rede Bandeirantes; repórter especial, editor de Economia, editor de Internacional da Folha de S. Paulo; secretário de Redação e editor da Revista Visão; repórter especial, editor de Internacional, de Política e de Nacional do Jornal da Tarde.

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