Paulo Guedes diz a senadores que se suas propostas forem rejeitadas “voltará para onde sempre esteve”

Que o governo de Jair Bolsonaro sofre com a falta de capacidade para a articulação política o mundo já sabia, mas essa incompetência ficou patente quando o Palácio do Planalto apostou todas as fichas em Paulo Guedes, ministro da Economia, para apagar o incêndio decorrente das faíscas provocadas pelo atrito entre o presidente e o deputado federal Rodrigo Maia (DEM-RJ).

Sem qualquer vocação para o diálogo, até porque sua personalidade o impede, e neófito em questões políticas, Paulo Guedes decidiu não comparecer à audiência agendada pela Comissão de Constituição e Justiça da Câmara dos Deputados para terça-feira (26), quando explicaria aos parlamentares o projeto de reforma da Previdência. A decisão de não comparecer deixou clara a incapacidade política de Guedes, o Posto Ipiranga.

Nesta quarta-feira (27), em audiência na Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) do Senado, Guedes mais uma vez externou o que muitos que conhecem os bastidores da política nacional já sabiam: o ministro está descontente e já começa a pensar em jogar a toalha.

O titular da Economia disse aos senadores que Jair Bolsonaro, os partidos da base de apoio ao governo e os parlamentares não concordarem com a agenda que ele propõe, deixar o cargo não será algo difícil, pelo contrário. Mesmo assim, Paulo Guedes fez questão de salientar que não será irresponsável a ponto de sair após a primeira derrota.

Questionado se deixaria o Ministério da Economia caso a reforma da Previdência seja aprovada sem alcançar a meta de economizar R$ 1 trilhão em dez anos, Guedes não descartou a hipótese. E não é a primeira vez que o ministro faz tal afirmação. Na cerimônia de transmissão de cargo, quando assumiu o ministério da Economia, ele disse que “é muito fácil” fazer alguém desistir em Brasília.


“Se o presidente apoiar as coisas que eu acho que podem resolver para o Brasil, eu estarei aqui. Se o presidente ou a Câmara, ou ninguém quer aquilo, eu voltarei para onde sempre estive. Tenho uma vida fora daqui. Vocês acham que vou brigar para ficar aqui? Eu estou aqui para servi-los. Se ninguém quiser o serviço, não tenho apego ao cargo. Mas não tenho inconsequência e irresponsabilidade de sair na primeira derrota”, disse o ministro.

Em primeiro lugar é preciso que o presidente da República assuma a responsabilidade pela reforma da Previdência, algo que até o momento Bolsonaro vem tentando terceirizar.

Além disso, as seguidas declarações de Jair Bolsonaro de que cabe ao Congresso melhorar a proposta de reforma da Previdência apontam na direção de possíveis mudanças no texto, o que por si só representariam comprometimento da meta de economia prevista pela equipe de Paulo Guedes.

Não obstante, políticos já anunciaram que tiraram do texto da reforma pontos que consideram prejudiciais aos menos favorecidos, o que também impactará na meta de economia projetada por Guedes.

Se na opinião do presidente da República o projeto da reforma tem gordura para ser cortada, mas para o ministro da Economia nenhuma vírgula pode ser mudada, o melhor que Paulo Guedes pode fazer é deixar o governo o quanto antes, pois por enquanto seu currículo está a salvo, se é que as investigações em curso já não fizeram estrago. Daqui por diante, caso o cenário econômico continue na toada atual, a situação tende a piorar.