Bolsonaro tenta camuflar sua incompetência ao culpar saúde pelo fiasco da articulação política

A desfaçatez de Jair Bolsonaro, o presidente da República, não tem limite e é proporcional à sua incapacidade para governar. Diante de um quadro de crescente deterioração política, Bolsonaro, em entrevista ao jornalista e apresentador José Luiz Datena, da Band, culpou a própria saúde pelos problemas que vem enfrentando com o Congresso.

Após passar 28 anos na Câmara dos Deputados, Jair Bolsonaro não conseguiu aprender a arte da política, que prima pelo diálogo e principalmente pela busca do consenso. Pelo menos é isso que deve perseguir um governante com doses mínimas de competência. Avesso ao contraditório e sempre pronto para impor suas vontades, mesmo que à força ou na esteira de armadilhas, o presidente prefere o enfrentamento à negociação.

Transferir à própria saúde a responsabilidade pela pífia articulação política do governo revela o grau da delinquência intelectual de Bolsonaro, que para manter-se no Olimpo criado por seus devotos é capaz de qualquer coisa, inclusive desse absurdo.

O motivo do torvelinho que se formou no Congresso é que o presidente da República, que não acredita na reforma da Previdência, prefere ver a proposta naufragar a ter de atender aos legítimos pedidos dos parlamentares. Para não ceder à pressão, Bolsonaro adotou o discurso de que não se curvará à “velha política”, algo que não está sendo cogitado pelos parlamentares, que cobram do governo ações legitimas e que fazem parte do presidencialismo de coalizão.


Ao não assumir publicamente a responsabilidade pela reforma da Previdência, Jair Bolsonaro se vê obrigado a terceirizar o assunto, o que vem gerando zonas de atrito entre o Palácio do Planalto e o Congresso Nacional.

A entrevista a Datena foi concedida no mesmo dia em que Bolsonaro passou por nova avaliação no Hospital Albert Einstein, em São Paulo, onde ouviu dos médicos que o acompanham desde o ataque a faca em Juiz de Fora, em 6 de setembro de 2018, que está completamente recuperado. Isso significa que a questão da saúde não tem qualquer relação com o fracasso da articulação política de um governo que já coleciona problemas, crises, recuos e desmentidos com menos de em dias.

Bolsonaro, assim como qualquer cidadão, tem garantido pela Constituição o direito à livre manifestação, o que engloba o apreço pela mitomania, mas não pode querer que a população acredite em suas recorrentes mentiras, sempre emolduradas pelo vitimismo tosco e rasteiro.

A continuar nessa toada, Bolsonaro corre o sério risco de enfrentar problemas graves em muito menos tempo do que Fernando Collor, cujo calvário político começou no momento em que o então “caçador de marajás” passou a ignorar deputados e senadores. O escândalo do Fiat Elba serviu apenas para materializar a queda de um presidente tão arrogante quanto o atual. Aguardemos, pois o tempos é o senhor da razão.