Bolsonaro ainda há de tropeçar na “bandeira branca” que do nada ofereceu a Rodrigo Maia

O presidente Jair Bolsonaro não tem em seu currículo recuos políticos, a exemplo dos que têm ocorrido nos últimos meses, pois sua personalidade impede que esse tipo de situação ocorra. Aconselhado por assessores palacianos, em especial pelos generais que integram o chamado núcleo duro do governo, Bolsonaro foi obrigado a recuar na desnecessária troca de farpas com o presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), como forma de preservar a governabilidade do País e postergar uma tragédia anunciada.

Quem conhece as entranhas da política nacional sabe que o armistício selado por Bolsonaro e Maia, com direito a troca de frases de efeito, surgiu do nada e da noite para o dia, por isso não merece pleno crédito, como já destacou o UCHO.INFO em matéria anterior. A questão é simples: o presidente da República não sabe fazer política, ao passo que Rodrigo Maia depende dessa arte para comandar uma Casa legislativa com 513 parlamentares. Além disso, se Bolsonaro chegou longe demais em termos políticos, Maia ainda tem muitos sonhos a realizar.

Mesmo que injustificável e prejudicial ao País, o fogo cruzado que ganhou força no último final de semana tem explicação. Bolsonaro continua apostando na desmoralização da classe política para, jogando para a plateia, justificar a própria incompetência. Maia, por outro lado, não poderia ficar calado, já que precisava defender-se por questões de sobrevivência política. Além disso, em jogo estava uma tentativa arrojada do presidente da República de colocar o Congresso de joelhos.

Após ter reagido com o “fígado”, Rodrigo Maia percebeu que a política da boa vizinhança seria a melhor armadilha para uma figura com o perfil de Bolsonaro, que não fica muito tempo sem dar vazão ao seu conhecido descontrole comportamental. E em breve o presidente da República voltará às redes sociais para, mesmo que através de terceiros, bombardear os aliados.

A questão da reforma da Previdência vem sendo tratada pelo governo como a tábua de salvação, mas é preciso ressaltar que a aprovação da PEC não resolve todos os problemas da economia nacional. A aprovação da reforma pode, na melhor das hipóteses, ser considerada com um importante pontapé inicial, mas só isso não resolve. Será preciso outras medidas igualmente importantes para tirar o Brasil de um buraco que continua aumentando horizontal e verticalmente.


Rodrigo Maia não chegou à presidência da Câmara dos Deputados porque é um despreparado, pelo contrário. Pode-se até não gostar do parlamentar do DEM fluminense, mas é preciso reconhecer que ao longo dos anos ele aprendeu a arte da articulação política. Isso significa que enquanto Bolsonaro tem como arma apenas a própria estupidez, Maia tem no paiol o apoio e a indignação da classe política.

O presidente da Câmara viu que o melhor seria se empenhar para a provar a reforma da Previdência, deixando Jair Bolsonaro à beira do caminho, como sempre esteve, até porque o presidente da República até agora não deu qualquer declaração enfática sobre a PEC que tem como objetivo abrir caminho para o ajuste fiscal. Na verdade, Bolsonaro, um néscio confesso em economia, não acredita na reforma da Previdência. E seu espírito conservador não combina com a essência liberal da equipe econômica.

O presidente da Câmara e o ministro da Economia, Paulo Guedes, que não entende de política, decidiram unir forças, cada um no seu reduto, para aprovar a reforma da Previdência, enquanto Bolsonaro brinca de governar. O tempo dirá quem é quem.

Não é preciso raciocínio acima da média para perceber que o cenário que se apresenta mostra de maneira clara que a receita de governança de Bolsonaro tem tudo para dar errado. Os devotos do presidente, em permanente estado de abdução, insistem em dizer que é preciso aguardar, pois o governo tem apenas três meses. A questão não é esperar, mas perceber o que pode dar certo e o que pode dar errado. E não querer enxergar o erro é burrice.

Jair Bolsonaro é despreparado em termos políticos e não tem estofo para ser presidente da República. Alguém pode alegar que trata-se de preconceito de nossa parte, mas não é assim que o futuro da nação deve ser tratado. A chance de um astronauta ganhar dinheiro com um carrinho de pipoca não é pequena, mas é enorme a possibilidade de ocorrer um desastre de grandes proporções se colocarmos um pipoqueiro para pilotar um foguete. Fique à vontade, escolha!