Decisão de Bolsonaro de não ir ao lado palestino é misto de estupidez política com birra ideológica

Não há como dissociar o governo de Jair Bolsonaro da estupidez e do revanchismo ideológico, nem mesmo quando o cargo de presidente da República exige doses mínimas de bom senso. Em visita oficial a Israel, onde protagoniza mais um espetáculo pífio de subserviência, Bolsonaro poderia mostrar ao mundo que não age movido pela ideologia, como vem vociferando nos últimos tempos, estendo sua viagem até o lado palestino de Jerusalém, local sagrado para muçulmanos, cristãos e muçulmanos.

Ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI) da Presidência, o general reformado Augusto Heleno ficou visivelmente irritado quando questionado por jornalistas sobre o motivo de a comitiva brasileira não ir ao lado palestino de Jerusalém, a exemplo do que fez o ex-presidente Lula quando esteve na região.

“Não vamos comparar, não. Pelo amor de Deus, tchau. Não comparem coisas heterogêneas”, disse Heleno, ao deixar o hotel onde está hospedada a comitiva do governo brasileiro.

Sobre o fato de a visita ao lado palestino não constar da agenda, o chefe do GSI disse que “nem se pensou nisso”. Sem ter como justificar a bizarrice palaciana, Augusto Heleno apelou ao imponderável ao dizer que na viagem presidencial ao Chile não houve visita à Argentina, por exemplo. Em suma, Bolsonaro não foi ao lado palestino por razões ideológicas.


“Tem uma outra época para ir”, disse. “Querem fazer ilações que não são corretas”, continuou o general da reserva, acrescentando que o presidente Bolsonaro não pode ficar por período longo fora do Brasil. A desculpa não convence, pois uma visita ao lado palestino não comprometeria a agenda do presidente da República.

O ministro recusou-se a falar sobre possível retaliação de países árabes a produtos brasileiros como contraponto à aproximação com Israel. “Isso não é assunto meu, é do ministro (das Relações Exteriores) Ernesto Araújo e do presidente (Jair Bolsonaro)”, disse Augusto Heleno.

Que Jair Bolsonaro governa sob o manto do revanchismo ideológico todos sabem, mas seu despreparo para o cargo chega a causar preocupação, uma vez que não se pode balizar a governança a partir do discurso odioso, como vem ocorrendo desde o início do governo.

Ao discursar ao lado do primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, Bolsonaro disse que “o Brasil deu uma guinada e a questão ideológica deixou de existir em nosso governo”. O presidente brasileiro tem o direito de falar o que quiser, mas não pode mentir em nome de uma nação, pois não é essa a realidade dos fatos.

O que acontece no escopo de um governo que continua cambaleando entre polêmicas e recuos é uma caça às bruxas com a lança ideológica, apenas porque Jair Bolsonaro continua em campanha e atacando os partidos de esquerda. Afirmar que a questão ideológica deixou de existir é uma ode à mitomania, já que na cena verde-loura entrou a bizarra e retrograda ideologia ultradireitista.