Morre em Brasília, aos 95 anos, mestre Gervásio Baptista, baluarte do fotojornalismo brasileiro

Morreu na manhã desta sexta-feira (5), em Brasília, aos 95 anos, o fotógrafo Gervásio Baptista. A informação foi confirmada pelo filho Júlio Baptista.

Muito mais do que um ícone, um baluarte do fotojornalismo brasileiro, Gervásio registrou com suas lentes e incrível sensibilidade a famosa foto de Juscelino Kubitschek acenando com a cartola para o povo na inauguração de Brasília, em 21 de abril de 1960.

A família aguarda a chegada de Selma Baptista, filha do fotógrafo, que estava em Madri, para definir detalhes sobre o velório. A cerimônia deve ocorrer na capital federal, no Cemitério Campo da Esperança. Em seguida, o corpo será cremado e as cinzas serão levadas ao Rio de Janeiro para serem espalhadas na Baía de Guanabara.

“Ele manifestou em vida que fizéssemos os mesmos procedimentos que fizemos com minha mãe”, contou o filho. “A ficha ainda não caiu. Mesmo que eu já viesse me preparando há tanto, tanto tempo. Ouvia ele dizer que já estava cansado, que queria muito partir. A gente acha que está preparado, mas, quando a coisa acontece, a gente vê que não estava.”

Escolhido por Tancredo Neves como fotógrafo oficial da Presidência da República, o profissional acompanhou o ex-presidente José Sarney por todo seu mandato presidencial, de abril de 1985 a março de 1990. “Fique profundamente emocionado”, disse Sarney à Agência Brasil.

Gervásio fez com exclusividade a clássica e última foto do presidente, acompanhado da equipe médica do Hospital de Base do Distrito Federal, em que ele aparece sentado de pijama e roupão.

Para Sarney, o fotógrafo nascido em Salvador, em 1923, é um ícone do fotojornalismo brasileiro, “membro de uma geração pioneira que documentou os momentos mais importantes da vida política nacional”.


“O Gervásio mereceu o respeito de todos os que conviveram com ele. Ao longo do tempo, desenvolvemos uma amizade e eu tinha um grande afeto, carinho e respeito por ele”, disse José Sarney, lembrando que Gervásio é o autor da foto que ilustrou seu material de campanha de 1958, quando disputou e se elegeu deputado federal pela UDN.

O ex-presidente afirmou ter visitado Gervásio na casa-lar para idosos na qual o fotógrafo passou os últimos anos, em Vicente Pires, no Distrito Federal.

“Eu às vezes ligava para saber sobre o estado dele. Não perdemos o contato desde que compartilhamos as preocupações profissionais e familiares. Fico profundamente emocionado por sua morte”, acrescentou Sarney, recordando um dos momentos ao lado de Gervásio que mais o marcaram foi o último dia no Palácio do Planalto. “Ao deixar Brasília, ele me acompanhou chorando.”

Na ditadura, Gervásio Baptista foi preso e, em uma das ocasiões, dividiu a cela com o ex-governador de Pernambuco Miguel Arraes (avô do ex-governador Eduardo Campos, ambos mortos).

Nada escapava à câmera desse mestre do fotojornalismo que deixa um legado impressionante e uma legião de discípulos. Nos bastidores do poder registrou raridades de Getúlio Vargas, Tancredo Neves, José Sarney, Fernando Henrique Cardoso e Luiz Inácio Lula da Silva.

Ele acompanhou a Revolução dos Cravos, em Portugal, em 1974. Foi ao Vietnã, nos anos de 1970, para registrar a guerra que até hoje é registrada pelo cinema norte-americano como uma das maiores batalhas do século XX.

Gervásio cobriu sete Copas do Mundo e 16 concursos de Miss Universo, quando as moças com corpos perfeitos e vestidos recatados paravam o País e as autoridades para acompanhar quem seria a eleita. (Com ABr)