Como se fosse um mago da economia, Guedes diz em NY que Bolsonaro não ameaça a democracia

Se a credibilidade do governo de Jair Bolsonaro dependesse apenas do comportamento questionável presidente, o Brasil poderia seguir seu caminho, mesmo que entre tropeços, pois bastaria encarar o capitão como versão tropical e mambembe da rainha da Inglaterra, respeitadas as muitas e abissais diferenças entre ambos.

Como se não bastasse a ópera bufa que se instalou no País com a chegada de Bolsonaro ao Palácio do Planalto, que se deu dentro das regras vigentes, o ministro da Economia, Paulo Guedes, parece disposto a fazer eco ao destampatório oficial.

Em evento da XP Investimentos em Nova York, Guedes disse, nesta quarta-feira (10), que a eleição de Bolsonaro foi um golpe contra o “establishment”, mas que o presidente não representa, “de jeito nenhum”, uma ameaça à democracia.

É preciso saber o que Paulo Guedes entende sobre ameaça à democracia e “establishment”, pois o que Bolsonaro vem fazendo ao longo dos últimos três meses é tentar impor uma nova ordem ideológica, econômica, política e legal, o que de chofre representa uma clara ameaça ao Estado Democrático de Direito, que por sua vez é um claro atentado à democracia.

Estranho seria se Guedes dissesse o contrário, até porque perderia o emprego em questão de minutos, mas qualquer ser humano que tem apreço pela coerência jamais faria um discurso eivado pela sabujice, como o do ministro da Economia.


Ao dirigir a palavra aos convidados da XP Investimentos, Paulo Guedes voltou a repetir o mesmo diagnostico da economia brasileira, que continua dependendo da aprovação da reforma da Previdência. Para o ministro, o modelo econômico brasileiro, com concentração de poder e recursos, está exaurido.

Guedes, sempre com um discurso milagroso, afirmou que o Brasil venceu o fantasma da inflação, mas elevou impostos e desacelerou o crescimento. “O Brasil precisa mudar o regime econômico, pois o crescimento é baixo”, disse.

“Vamos recuperar taxas de crescimento mais altas logo”, prometeu o ministro, sem explicar como isso é possível em um governo que está perdido e preocupa-se com questões menores, como as ideológicas, por exemplo.

Desprovido da sensibilidade necessária para manter um bom relacionamento com o Parlamento e garantir a aprovação da sonhada reforma da Previdência, Guedes sacou do embornal o discurso presidencial da “nova política” contra a “velha política”. Para quem está sendo investigado por gestão temerária ou fraudulenta na captação de R$ 1 bilhão de fundos de pensão, demonizar a “velha política” é excesso de pieguice.

“Tivemos 30 anos de social democracia e agora liberais e conservadores estão no poder”, disse o ministro. “Queremos abrir a economia, privatizar, reduzir impostos e fazer ajuste fiscal”, afirmou.

Sonhar é de graça e não paga impostos, mas imaginar que liberais e conservadores rumarão na mesma direção é passar recibo de inocência logo de saída. Tanto é assim, que até a última semana o presidente da República ainda não tinha abraçado para valer o projeto de reforma da Previdência. Afinal, Bolsonaro é um conservador que nada entende de economia. Aguardemos, pois!