Deputado do PT acusa ministro da Educação de autoplágio, mas esquece que Mercadante fez o mesmo

Ex-ministro da Saúde, o deputado federal Alexandre Padilha (PT-SP) entrou com representação na Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) contra o ministro Abraham Weintraub (Educação) – professor da instituição –, questionando a publicação de um mesmo artigo científico em duas revistas diferentes.

Na representação, Padilha afirma que a prática, classificada como autoplágio, se contrapõe de “maneira absoluta à conduta de docente” e requer que a Unifesp tome as medidas cabíveis.

Que democracia depende visceralmente dos contrapontos externados por situacionistas e oposicionistas todos sabem, mas a política brasileira precisa amadurecer, deixando de lado questões comezinhas, que deveriam ser tratadas por quem de direito, não por aqueles que decidem o futuro da nação.

Como em voga está uma guerra ideológica sem fim, todas as armas serão utilizadas nesse embate que atenta não apenas contra a própria democracia, mas acima de tudo contra a dignidade do cidadão.

Se Alexandre Padilha sente-se na obrigação de trazer Weintraub à realidade, deveria ter feito o mesmo com o “companheiro” Aloizio Mercadante, que recorreu ao autoplágio em tese de doutorado apresentada à Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), em 2010.

Defendida em dezembro de 2010, a tese de 537 páginas, intitulada “As bases do Novo Desenvolvimento no Brasil: análise do governo Lula (2003-2010)”, teve como base um livro do próprio Mercadante, “Brasil: a construção retomada”. Essa prática contraria o regimento da Unicamp, que exige trabalhos originais.


Entenda o caso da tese de Mercadante

Era uma sexta-feira, 17 de dezembro de 2010, quando Aloizio Mercadante chegou a um dos auditórios da Unicamp para discorrer sobre sua tese de doutorado em Economia, “As bases do Novo Desenvolvimentismo no Brasil: análise do governo Lula (2003-2010)”. Não poderia ser outro tema, porque no PT só há herdeiros magnânimos de Aladim e messiânicos de toda ordem. E os dias atuais provam como a Unicamp errou ao dar o título de doutor em ciências econômicas a Aloizio Mercadante.

Fosse seguir a própria regra que impõe aos “reles” doutorandos, a Unicamp jamais poderia ter conferido o título a Mercadante, pois a tese não passou de cópia rebuscada de um livro de sua autoria, já mencionado. E qualquer universidade respeitável, como é o caso da Unicamp, exige que a tese de doutorado seja uma obra inédita.

No Regimento Geral dos Cursos de Pós-Graduação da Unicamp (Deliberação CONSU-A-008/2008), o Artigo 31, em seu parágrafo 3º, é claro: “Entende-se por tese de doutorado o trabalho supervisionado que resulte em contribuição original em domínio de conhecimento determinado”.

Diante do constrangimento, Mercadante, que conseguiu a proeza de fraudar a si mesmo, explicou que sua tese era uma versão mais densa e ousada do conteúdo do tal livro.

Em determinado ponto do fraudulento trabalho apresentado à Unicamp, Mercadante destaca: “O ponto fulcral desta tese é que o Brasil, ao longo do governo Lula, começou a construir um Novo Desenvolvimentismo, um novo padrão de desenvolvimento substancialmente distinto tanto do neoliberalismo quanto do antigo nacional-desenvolvimentismo predominante no passado”.

Comentar sobre a fraude cometida na tese de doutorado de Aloizio Mercadante é desnecessário, pois para bom entendedor pingo é letra. Sobre o ponto fulcral, este sim merece comentário, pois este “padrão de desenvolvimento distinto” foi desmontado com a crise econômica que perdura até os dias atuais.