Movido pela frouxidão, Bolsonaro é incapaz de conter embates entre generais palacianos e “olavistas”

Coléricos ao extremo, os bolsonaristas não aceitam qualquer crítica ao presidente da República, mesmo que procedente. Como contraponto, os aduladores de Jair Bolsonaro alegam que o governo já realizou inúmeras proezas ao longo de quatro meses, mas até agora o que se viu por parte do presidente foi o incentivo irresponsável a intrigas envolvendo assessores e ministros, como se isso fosse benéfico ao País.

Com o acirramento da troca de farpas entre militares e olavistas, disputa que conta com o apoio do próprio Bolsonaro nos bastidores, o presidente afirmou, na segunda-feira (6), que não há no governo essa mencionada cizânia, pois todos fazem parte de um só time.

Entre o que fala o presidente e a constatação da realidade há uma considerável distância. Enquanto finge que nada acontece, Bolsonaro sai em defesa de Olavo de Carvalho, o ideólogo incendiário do governo, a quem classificou, em postagem nas redes sociais, como ícone e ídolo. Ao concluir seu comentário, o presidente da República afirmou que espera ser uma “página virada por ambas as partes” a séria de “desentendimentos” públicos entre o escritor e os generais palacianos.

Que ninguém espere o arrefecimento desse cenário, já que a exaltação dos ânimos só cresce em ambos os lados. E Bolsonaro deveria enquadrar o ideólogo do governo, dando o devido respaldo aos generais que o assessoram diuturnamente e que até o momento impediram que o governo fosse a pique.


Na manhã deste terça-feira (7), Olavo de Carvalho, em resposta ao general Eduardo Villas Bôas, que chamou o astrólogo de Virgínia de “Trotsky de direita”, disse que os militares do Palácio do Planalto, desprovidos de argumentos para rebater suas críticas, se escondem atrás de um “doente preso a uma cadeira de rodas”, em clara e direta referência à condição de saúde do ex-comandante do Exército, que sofre de doença degenerativa.

Esse comentário tem tudo para elevar a temperatura de uma disputa que não tem data para terminar, comprometendo ainda mais a estabilidade de um governo pífio, comandado (sic) por um político incompetente e sem qualquer dose de preparo para cargo de tamanha importância.

Não obstante, um dos filhos do presidente, o vereador Carlos Bolsonaro (PSC-RJ), continua disposto a desestabilizar o governo com suas incursões nas redes sociais. Conhecido como “02”, Carlos Bolsonaro tem dito a pessoas próximas ser responsável pelo processo de “fritura” do general da reserva Carlos Alberto dos Santos Cruz, ministro-chefe da Secretaria de Governo, alvo de sórdido ataque virtual nos últimos dias.

Na noite do último domingo (5), Santos Cruz reuniu-se com o presidente da República, no Palácio da Alvorada, ocasião em que expôs a situação e teria colocado o cargo à disposição. Bolsonaro, por sua vez, ciente do estrago que representaria ao governo a demissão do general Santos Cruz, procurou contemporizar, mas parece que sua frouxidão o impede de buscar qualquer solução pacificadora.