Bolsonaro disse que ele e o filho “pagariam a conta” se algo errado existisse com Queiroz, agora se irrita

Jair Bolsonaro foi eleito presidente da República em 28 de outubro de 2018, quando sua vitória nas urnas foi confirmada no segundo turno da corrida eleitoral. A partir de então, Bolsonaro passou a acreditar que o País deveria curvar-se diante de sua figura, certo de que a lei passaria a valer apenas aos adversários, não a ele e seus familiares.

Em 12 de dezembro do ano passado, já na condição de presidente eleito, Bolsonaro viu-se obrigado a comentar sobre o escândalo envolvendo o filho Flávio e o ex-assessor parlamentar Fabrício Queiroz. Na ocasião, disse que ele e o filho pagariam “a conta” caso houvesse houver algo de “errado” com Fabrício, ex-assessor do primogênito na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj). Além disso, Queiroz é amigo de Bolsonaro há anos, tendo frequentado com assiduidade a casa do agora presidente da República, além de acompanhá-lo em pescarias.

Bolsonaro fez tal declaração durante transmissão ao vivo no Facebook e comentou o fato de o Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) ter encontrado “movimentação atípica” de R$ 1,2 milhão na conta bancária de Fabrício Queiroz.

“Se algo estiver errado, seja comigo, com meu filho ou com o Queiroz, que paguemos a conta deste erro, porque nós não podemos comungar com o erro de ninguém. Da minha parte, estou aberto a quem quiser fazer qualquer pergunta sobre este assunto, tenho sempre me colocado à disposição e o que a gente mais quer é que isso seja esclarecido o mais rápido possível, sejam apuradas as responsabilidades, se é minha, se é do meu filho, se é do Queiroz ou de ninguém”, afirmou Bolsonaro.

O relatório do Coaf sobre a movimentação de Fabrício vazou dias após Flávio Bolsonaro, abusando da soberba, ter afirmado, em entrevista à Globo News, que não havia a menor possibilidade de diálogo com o senador Renan Calheiros. A declaração, com pitadas de deboche, tinha como pano de fundo a eleição para a presidência do Senado.

Em 23 de janeiro deste ano, em Davos (Suíça), onde participou do Fórum Econômico Mundial, Jair Bolsonaro foi questionado pela agência de notícias Bloomberg sobre o escândalo envolvendo o filho. O presidente afirmou na ocasião que Flávio “pagará o preço” se comprovadas as transações financeiras irregulares de que é suspeito.

“Se por ventura ele vier a errar, se for comprovado, eu lamento como pai, mas ele vai pagar aí o preço dessas ações que não podemos coadunar”, declarou Bolsonaro à agência Bloomberg.


Para saber se alguém é culpado é preciso que haja uma investigação. E é exatamente isso que o Ministério Público do Rio de Janeiro faz em relação a Flávio Bolsonaro e Fabrício Queiroz. Acontece que a família Bolsonaro acredita estar acima da lei, por isso não aceita qualquer tipo de investigação que mostre à opinião pública que o clã presidencial é “mais do mesmo”.

Depois de muitos ataques de Flávio Bolsonaro aos promotores encarregados do caso, o MP fluminense conseguiu na Justiça a quebra dos sigilos bancário e fiscal do senador pelo PSL, de Fabrício Queiroz e de mais 88 pessoas físicas e jurídicas.

Os investigadores afirmam que Flávio Bolsonaro lavou dinheiro através da compra de imóveis e que em seu gabinete na Alerj funcionou uma organização criminosa desde 2007, com o objetivo específico de desviar dinheiro público.

Nesta quinta-feira (16), em Dallas (EUA), onde foi receber o prêmio “Personalidade do Ano”, Jair Bolsonaro decidiu falar sobre a decisão da Justiça de autorizar a quebra dos sigilos bancário e fiscal do filho.

“Fizeram aquilo para me prejudicar”, disse o presidente. “Estão fazendo um esculacho em cima”, do senador. “Querem me atingir? Venham pra cima de mim. Eu abro o meu sigilo, não vão me pegar”, completou o irritado Jair Bolsonaro.

O presidente da República precisa compreender que a Constituição em seu artigo 5º (caput) estabelece que “todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza”. Além disso, parte do slogan da campanha do próprio Bolsonaro era “Brasil acima de tudo”. Ora, se o País está acima e tudo, não há razão para se indignar diante da estrita da aplicação da lei.

Não obstante, se o próprio Flávio Bolsonaro afirma que nada fez de errado, não há motivo para pai e filho se preocuparem e se irritarem. Que as investigações avancem e a aludida inocência seja comprovada. Do contrário, que o presidente da República faça valer o que disse: que ele e o filho “paguem a conta”.