Cresce o número de políticos contrários às manifestações em prol do despreparado Bolsonaro

Cresce a percepção de que o ato em prol de Jair Bolsonaro, marcado para o próximo domingo (26), é um tiro no pé, espécie de recibo de incapacidade de governar, algo que quem acompanha a política brasileira com proximidade e há anos já sabia.

Causa espécie o fato de o próprio Bolsonaro estar apoiando o movimento, apesar das recomendações contrárias de assessores e aliados, que consideram o ato um despropósito, principalmente pelo fato de o governo ter apenas cinco meses. Tomando por base o curto tempo de Bolsonaro como presidente e o seu desespero por uma manifestação popular de apoio, fica evidente que sua incapacidade para governar é maior do que se imaginava.

Até mesmo dentro do PSL surgem críticas contra a manifestação. O presidente nacional da legenda, deputado federal Luciano Bivar, disse nesta terça-feira (21), em Brasília, que não vê motivos para as manifestações convocadas por apoiadores de Bolsonaro.

A cúpula do partido reúne-se na tarde desta terça para definir se participa ou não das manifestações. O assunto provocou acaloradas discussões na legenda e, em meio à divisão de opiniões sobre o movimento, a deputada estadual Janaína Paschoal sinalizou com a possibilidade de deixar o partido.


Luciano Bivar, que é contra as manifestações, disse que poderá apoiar o movimento caso essa seja a decisão da cúpula do PSL. “O presidente está eleito, não cometeu nenhuma improbidade, está fazendo um governo dentro dos princípios republicanos, para o bem do País, então não tem por que existir qualquer manifestação. Agora, as manifestações são soluços do povo. A gente entende e, se for o caso, a gente apoia também”, afirmou o presidente do PSL.

Sobre eventuais dificuldades para a relação do governo Bolsonaro com o Congresso Nacional, como reflexo das manifestações, Luciano Bivar disse que “não haverá problema”. O presidente do PSL está enganado, pois mesmo antes da realização do ato de apoio a Bolsonaro a relação entre o Palácio do Planalto e o Parlamento não é das melhores. Se as manifestações centrarem os protestos no Congresso e principalmente no chamado “Centrão”, a situação de Bolsonaro piorará consideravelmente.

Bolsonaro tenta governar a partir do apoio popular, que não é maciço, sem a participação do Legislativo e do Judiciário, como se fosse possível inaugurar no País um fascismo tropical. A Constituição Federal não permite esse modelo de governança nem Jair Bolsonaro foi eleito para isso. Aliás, sua eleição foi para o Executivo, com o compromisso tácito de cumprir o que estabelece a Carta Magna, que entre tantos itens praga a convivência harmônica e independente dos Poderes constituídos.

Se o presidente da República pensa que essa investida será exitosa e terá o respaldo de toda a sociedade, o tiro tem tudo para sair pela culatra. O melhor que Bolsonaro poderia fazer é deixar de lado o revanchismo ideológico e reconhecer que não tem capacidade para governar. Aliás, ele próprio já admitiu publicamente que não nasceu para ser presidente. Sendo assim, poderia renunciar ao cargo, pois um processo de impeachment interromperia o processo da reforma da Previdência, tão necessária ao País.