Governo da Áustria racha em meio a escândalo de corrupção

Todos os ministros do ultradireitista Partido da Liberdade da Áustria (FPÖ) que ainda compunham o governo da Áustria anunciaram, na segunda-feira (20), sua saída da coalizão que formavam desde dezembro de 2017 com o Partido Popular Austríaco (ÖVP). O movimento ocorre em meio a um escândalo envolvendo o líder do FPÖ e ex-vice-chanceler federal, Heinz-Christian Strache.

A renúncia dos ministros do FPÖ ocorreu após o chanceler federal da Áustria, Sebastian Kurz, anunciar a demissão do ministro do Interior, Herbert Kickl, do FPÖ. Segundo Kurz, o objetivo era garantir uma investigação transparente do escândalo de corrupção que provocou a convocação de eleições antecipadas.

Kurz, do ÖVP, anunciou o fim da coalizão de governo no sábado depois de a imprensa alemã ter revelado um vídeo em que Strache aparece oferecendo futuros contratos governamentais a uma suposta magnata russa em troca de apoio ao seu partido nas últimas eleições parlamentares, em 2017. A renúncia de Strache não foi suficiente para acalmar a crise no governo.

Apesar da ameaça do FPÖ de abandonar o governo, caso o ministro do Interior fosse forçado a deixar o gabinete, nesta segunda-feira, Kurz anunciou que iria pedir que o presidente da Áustria, Alexander Van der Bellen, demitisse Kickl, um dos mentores da ascensão do partido de extrema direita ao poder.

O chanceler federal argumentou que o ultradireitista não poderia supervisionar uma investigação aberta contra o líder de sua própria legenda. Já Kickl acusou Kurz de tentar recuperar o poder sobre o ministério, que durante muitos anos foi comandado pelo ÖVP.

Logo após o anúncio de Kurz, o FPÖ cumpriu a ameaça de sair do governo. O chanceler federal austríaco afirmou que pretende preencher as vagas abertas nos ministérios com especialistas ou funcionários do alto escalão. “Concordei com o presidente que queremos garantir a estabilidade até as novas eleições”, destacou.

Kurz afirmou que manterá o governo operando efetivamente até as eleições antecipadas, programadas para ocorrer em setembro.


O escândalo

As imagens reveladas pela imprensa alemã mostram um encontro entre o vice-chanceler e uma mulher da Rússia na ilha espanhola de Ibiza, suposta sobrinha de um oligarca russo, que diz estar interessada em investir grandes quantidades de dinheiro na Áustria. O chefe da bancada parlamentar do FPÖ, Johann Gudenus, que também aparece no vídeo.

Segundo a revista Der Spiegel, a mulher russa, que não foi identificada, falou em doar 250 milhões de euros e sugeriu várias vezes que o dinheiro teria sido obtido de maneira ilegal.

“No entanto, Strache e Gudenus permaneceram na reunião por cerca de seis horas e discutiram sobre oportunidades de investimento na Áustria”, escreve a revista alemã. “O encontro foi obviamente organizado como uma armadilha para os políticos do FPÖ.”

Os veículos afirmam que, na reunião, Strache disse à mulher que ela obteria lucrativos contratos de construção na Áustria se ela comprasse um jornal austríaco e declarasse apoio ao seu partido nas eleições parlamentares daquele ano.

A russa teria sugerido comprar um pacote significativo de ações do diário Kronen Zeitung para apoiar a campanha do nacionalista FPÖ – que após as eleições acabaria formando uma coalizão com o conservador ÖVP, de Kurz, e entrando no governo.

“Se ela assumir o Kronen Zeitung três semanas antes das eleições e nos trouxer o primeiro lugar, então podemos conversar sobre qualquer coisa”, teria dito Strache na gravação.

Esta não é a primeira vez que o governo de Kurz tem de lidar com acusações contra seus membros ultranacionalistas. Desde o início da coalizão entre ÖVP e FPÖ, no final de 2017, vieram à tona escândalos e incidentes quase semanais, geralmente relacionados com declarações antissemitas ou relações com grupos neonazistas.

A polêmica mais recente ocorreu no final de abril, quando um político do FPÖ escreveu um poema discriminatório em que comparou imigrantes a ratos. O texto publicado num folheto da legenda provocou críticas generalizadas e deixou irritado o chanceler federal.

O poema intitulado “O rato urbano” foi impresso numa publicação local do partido nacionalista em Braunau am Inn, cidade localizada na fronteira com a Alemanha e famosa por ser o local de nascimento de Adolf Hitler. O texto escrito pelo vice-prefeito de Braunau am Inn, Christian Schilcher, advertia contra imigrantes e a mistura de culturas. (Com agências internacionais)