Bolsonaro reage a entrevista de Paulo Guedes e diz “ninguém é obrigado a ficar como ministro meu”

Quando ainda estava em campanha pela Presidência, o então candidato Jair Bolsonaro usava a palavra “casamento” para referir-se à sua relação com o economista Paulo Guedes, que meses depois foi nomeado ministro da Economia. Como nove entre dez casamentos ao redor do planeta, o de Bolsonaro e Guedes não é imune a crises, mas ao que parece a palavra divórcio entrou em cena antes do esperado.

Em entrevista concedida à revista Veja, publicada nesta sexta-feira (24), Paulo Guedes afirmou que deixará o cargo caso a reforma da Previdência se transformar em uma “reforminha”. Como afirmou o UCHO.INFO em matéria anterior, na entrevista, disponível no site da Veja, o ministro esbanja oportunismo barato e chantagem de ocasião, pois está-se a dois dias das manifestações convocadas em apoio ao presidente da República.

Que Paulo Guedes é o típico economista “samba de uma nota só” todos sabem, mas não se pode negar que há muitas frentes de conflito entre o ministro e o presidente. E ninguém que é alçado ao posto de superministro da Economia quer ver assuntos da pasta serem tratados com irresponsabilidade por alguém que não entende do assunto – no caso Bolsonaro – sem ser previamente comunicado.

Ao anunciar de maneira desastrada a possibilidade de arrecadar aproximadamente R$ 1 trilhão com a criação de uma nova taxa que permite a atualização do valor dos imóveis na declaração do Imposto de Renda, Jair Bolsonaro sequer consultou Guedes. Apenas chamou o secretário da Receita Federal, Marcos Cintra, e propôs um tema que circula nos escaninhos do órgão desde 2017 sem qualquer dose extra de ânimo.

A declaração de Paulo Guedes de que poderá deixar o governo caso a reforma da Previdência não saia a contento reverberou no Palácio do Planalto, onde assessores palacianos trataram de informar Bolsonaro, que está em viagem ao Nordeste.


Após reunião do Conselho Deliberativo da Sudene, no Recife, Bolsonaro comentou, durante entrevista coletiva, as declarações de Guedes à revista Veja. O presidente disse que “ninguém é obrigado a ficar como ministro”. Ou seja, como se diz na linguagem popular, “o gato subiu no telhado”.

“Paulo Guedes está no direito dele. Ninguém é obrigado a ficar como ministro meu”, declarou Bolsonaro na capital pernambucana. Contundo, segundo o raciocínio do ministro, o presidente voltou a afirmar que sem a reforma da Previdência “será o caos na economia”.

Paulo Guedes é economista e não entende de política, mas o Palácio do Planalto, por reconhecida incompetência, delegou ao ministro a tarefa de convencer os parlamentares sobre a necessidade de se aprovar a reforma. Enquanto isso, Bolsonaro trata de atrapalhar o trabalho de Guedes, que é um neófito no assunto.

No contraponto, Jair Bolsonaro, que reconhece não ter nascido para ser presidente, é um trapalhão contumaz em termos políticos e admite publicamente que nada entende de economia. Mesmo assim, por acreditar que é dono do Brasil, trata de assuntos econômicos como se fosse o pai da matéria. E o faz sem consultar quem entende do assunto.

Alguém pode perguntar se há alguma chance de dar errado. As chances são muitas e dos mais distintos matizes. É uma questão de tempo. A não ser que Bolsonaro acorde para a realidade e decida agir para convencer a bancada do PSL sobre a importância da aprovação da reforma da Previdência.