Em meio à crise do Brexit, Theresa May renuncia ao cargo de primeira-ministra do Reino Unido

Depois de quase três anos à frente do governo do Reino Unido, a primeira-ministra Theresa May anunciou nesta sexta-feira (24) que deixará o cargo de líder do Partido Conservador em 7 de junho e, consequentemente, não mais será a chefe do governo britânico.

Com a decisão, anunciada em meio às eleições para o Parlamento Europeu, May sucumbiu às exigências de correligionários conservadores para abrir caminho a um novo chefe de governo que tente quebrar o impasse sobre o Brexit.

“Vou renunciar como líder dos conservadores e unionistas na sexta-feira, 7 de junho, para que um sucessor possa ser escolhido”, disse Theresa May em coletiva de imprensa diante da residência oficial em Downing Street.

“É e sempre será um motivo de profundo pesar para mim não ter sido capaz de finalizar o Brexit”, afirmou May. “Agora está claro para mim que é do melhor interesse do país que um novo primeiro-ministro lidere esse esforço.”

May informou ter comunicado à rainha Elizabeth 2ª que permanecerá no cargo de primeira-ministra interina até que um novo líder de governo seja escolhido, um processo que provavelmente levará várias semanas.

A conservadora afirmou ter sido uma “honra” servir como primeira-ministra do Reino Unido por quase três anos. “Sou a segunda mulher chefe de governo, mas certamente não serei a última”, finalizou, visivelmente emocionada, antes de retornar à residência oficial.

A carreira política de May chegou a um fim inglório, depois que sua última tentativa de salvar seu impopular acordo do Brexit foi condenada quase unanimemente pelo Parlamento na quarta-feira em Londres.

A sitiada premiê vivia os últimos suspiros de um mandato tumultuado, concentrado exclusivamente em orientar a saída de um Reino Unido dividido para fora da União Europeia (UE).

O mandato curto, mas marcado por crise política, de Theresa May sucumbiu depois que sua batalha para ganhar a aprovação parlamentar para seu acordo sobre o Brexit ter fracassado miseravelmente. Ao longo dos anos, a líder conservadora recebeu elogios por sua determinação e capacidade de sobrevivência ao que pode ser visto como uma crise política de três anos desde o referendo.

Contudo, a abordagem nas negociações do Brexit, quando se recusou a aceitar a forte oposição dos parlamentares ao seu acordo, antes de tardiamente abrir negociações que se provaram inúteis com o Partido Trabalhista, deixou a premiê conservadora politicamente abandonada.

As três rejeições parlamentares esmagadoras dos termos que ela acordou com os outros 27 países-membros do bloco europeu, no ano passado, forçaram Londres a perder a oportunidade de sair na data original, em 29 de março, e implorar por mais tempo.

No meio desta semana, membros ansiosos do partido de May chegaram a se reunir a portas fechadas para discutir mudanças nas regras que permitiriam que eles votassem uma moção de desconfiança contra a primeira-ministra.


Os infortúnios da chefe de governo foram agravados quando Andrea Leadsom – uma das mais fortes defensoras do Brexit no gabinete governamental – pediu demissão do cargo de representante do governo no Parlamento diante da forma que May lidou com a crise, que se desdobrou lentamente.

“Eu não acredito mais que nossa abordagem responda aos resultados do referendo [de 2016]”, disse Leadsom em sua carta de demissão.

Theresa May pagou o preço por não atender aos desejos dos eleitores que escolheram por uma margem estreita, em 2016, rescindir o seu difícil envolvimento de quatro décadas no projeto de integração europeia.

Seus correligionários conservadores devem sofrer perdas nas eleições para o Parlamento Europeu que se iniciam nesta quinta-feira e vão até domingo, nas quais o novo Partido do Brexit, do populista eurocético Nigel Farage, está na frente nas pesquisas de opinião.

May tinha prometido renunciar, não importando o resultado de sua quarta tentativa de levar a nova versão do acordo do Brexit para votação no Parlamento no início de junho. Mas mesmo com esse sacrifício – e um pacote de bondades divulgado na quarta-feira, que incluiu uma chance para legisladores obterem novo referendo sobre o Brexit – não conseguiu amenizar a pressão.

“É hora de a primeira-ministra partir”, disse a chefe do governo a Ian Blackford, do pró-europeu Partido Nacionalista Escocês, quando ela tentava defender sua mais recente proposta no Parlamento.
May ignorou a sugestão e preferiu convocar a votação da última chance do Reino Unido para deixar a UE com um acordo negociado, evitando assim o caos econômico.

O Parlamento deve “parar de fugir da questão e enfrentar a tarefa que os britânicos nos incumbiram de fazer”, disse ela.

As eleições europeias estão sendo interpretadas no Reino Unido como um referendo tanto sobre o Brexit quanto sobre a capacidade de May realizar sua principal tarefa.

Uma pesquisa do instituto de opinião YouGov mostrou na quarta-feira que o Partido do Brexit, de Farage, possui o apoio de 37% do eleitorado britânico.

O grupo de liberais-democratas pró-europeus vem em segundo lugar, com 19%. O Partido Trabalhista, principal legenda de oposição, contou com 13%, e os conservadores de May vieram em quinto lugar, com apenas 7% da intenção de votos.

“Se vencermos essas eleições e as vencermos bem, teremos um mandato democrático”, disse Farage na quinta-feira.

O líder do Partido Liberal Democrata, Vince Cable, disse a seus apoiadores que o voto em seu partido seria “um voto para impedir o Brexit”.

A rejeição aberta do seu grupo ao Brexit parece atrair eleitores pró-europeus, que normalmente apoiariam um dos dois principais partidos tradicionais (Partido Trabalhista ou o conservador Tory). (Com agências internacionais)