Dispostos a devolver Coaf à Justiça, senadores podem inviabilizar estrutura administrativa do governo

A base de apoio ao governo de Jair Bolsonaro no Senado está disposta a colocar tudo a perder no âmbito da Medida Provisória 870, que trata da reestruturação administrativa. Isso porque senadores, em especial os do PSL, querem apresentar emenda à MP para devolver o Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) ao Ministério da Justiça, transferido para a pasta da Economia por decisão da Câmara dos Deputados durante votação da matéria.

Os senadores aliados garantem que têm votos suficientes para aprovar a emenda que devolve o Coaf ao ministro Sérgio Moro, mas o presidente Jair Bolsonaro defende a aprovação da MP 870 da forma como chegou da Câmara dos Deputados. Apesar disso, os senadores insistem em apresentar a mencionada emenda.

A questão que preocupa os palacianos é o fato de a MP 870 perder a validade no próximo dia 3 de junho. Isso significa que em caso de mudança no texto com a aprovação de emenda que devolve o Coaf ao Ministério da Justiça, a MP teria de voltar à Câmara para nova votação.

Como os deputados federais, em especial os do chamado “Centrão”, já cumpriram o combinado em relação à votação da MP, uma nova rodada seria desgastante para um governo que tropeça de forma recorrente no quesito articulação política e nunca está disposto a dialogar com os aliados.


Correr o risco de a MP 870 perder a validade seria impor ao governo a adoção da estrutura administrativa da gestão do então presidente Michel Temer, que tinha 29 ministérios, contra os 22 atuais. Isso significa mais despesas para um governo que vem anunciando seguidos cortes no orçamento e enfrenta sérias dificuldades para explicar o assunto.

A situação tornou-se ainda mais difícil depois das inócuas manifestações de domingo (26), quando os apoiadores de Bolsonaro saíram às ruas para criticar duramente o presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), e os parlamentares do “Centrão”.

Quando o UCHO.INFO afirma que para governar é preciso calma, competência e visão de futuro, os bolsonaristas perdem o controle e partem para a agressão, como se fossem donos da verdade suprema. Não se pode governar apostando todas as fichas no enfrentamento contínuo e na discórdia permanente.

Se as desnecessárias manifestações não tivessem ocorrido ou, então, os discursos dos simpatizantes de Bolsonaro fossem menos agressivos, talvez uma nova votação da MP 870 na Câmara poderia até ser considerada. Não será a fórceps que o presidente conseguirá aprovar medidas de interesse do governo e do País. Ou ele para com esse espetáculo pífio e irresponsável, ou o brasileiro se acostuma com a ideia de que assim será até o último dia do mandato.