Bolsonaro se irrita ao ser questionado sobre escândalo envolvendo Sérgio Moro e encerra entrevista

Presidente da República, Jair Bolsonaro não abre mão do jeito estúpido de ser. No aeroporto de Congonhas, em São Paulo, ao ser questionado sobre o vazamento das mensagens trocadas entre o ministro da Justiça, Sérgio Moro, e o procurador Deltan Dallagnol, o presidente manteve o silêncio e encerrou abruptamente a entrevista coletiva que concedia logo após desembarcar na capital paulista.

“Tá encerrada a entrevista”, disse o presidente, após responder a várias perguntas de jornalistas sobre a reforma da Previdência.

Bolsonaro precisa compreender que o cargo de presidente não lhe dá o direito de interromper entrevistas a todo tempo, pelo contrário, pois na democracia a transparência é essencial. Ademais, ao agir dessa maneira o presidente deixa claro que o assunto ainda causa incômodo no Palácio do Planalto.

Até o momento, o presidente não se manifestou publicamente sobre a polêmica troca de mensagens entre o ex-juiz Moro e Dallagnol, quando ambos atuavam no âmbito da Operação Lava-Jato.

Mais cedo, em Brasília, Bolsonaro e Moro reuniram-se no Palácio da Alvorada durante cerca de vinte minutos, período em que trataram do assunto que continua chacoalhando a política nacional. O encontro, que não estava nas agendas oficiais do presidente e do ministro, serviu para uma conversa “tranquila” sobre “a invasão criminosa” de celulares de juízes, procuradores e jornalistas, de acordo com nota do Ministério da Justiça.


Segundo o texto enviado pela assessoria de imprensa da pasta, “o ministro rechaçou a divulgação de possíveis conversas privadas obtidas por meio ilegal e explicou que a Polícia Federal está investigando a invasão criminosa”.

Bolsonaro e Moro participaram de evento da Marinha, em Brasília, dando a entender que o episódio não afetou a relação entre os dois, mas em solenidade na Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (FIESP), na capital paulista, no começo da noite desta terça-feira (11), o presidente citou de forma enfática os nomes de cinco ministros, mas não mencionou o do titular da Justiça.

Há quem garanta que nada de ilícito existe nas mensagens trocadas entre Moro e Dallagnol, mas é preciso que esses afobados e incautos leiam o Código de Processo Penal, a Constituição Federal e a Lei Orgânica da Magistratura antes de comentários descabidos.

A invasão dos celulares do ministro e do procurador da República configura crime, mas a conduta de Sérgio Moro foi no mínimo inadequada e amoral. Em um país minimamente sério e com autoridades responsáveis e de pulso, Moro já teria pedido demissão.

Considerando que no Brasil atual predominam a guerra ideológica e a revanche partidária, Sérgio Moro está disposto a enfrentar as consequências do caso para não perder a oportunidade de ser indicado ao Supremo Tribunal Federal (STF). Afinal, é o que lhe resta depois da equivocada decisão de abandonar a magistratura para aterrissar na Esplanada dos Ministérios.