Bolsonaro abusa do populismo barato e afirma que indicará ao STF ministro “terrivelmente evangélico”

O presidente Jair Bolsonaro não cansa de mesclar estupidez política com radicalismo ideológico, coquetel que leva cada vez mais o País a uma cizânia que tem sido confirmada de forma recorrente pelas pesquisas de opinião. Não obstante, Bolsonaro insiste em governar para um setor da sociedade, mais precisamente para o grupo de eleitores que ainda apoiam suas estultices.

Nesta quarta-feira (10), durante culto da bancada evangélica na Câmara dos Deputados, o presidente da República afirmou que indicará um ministro “terrivelmente evangélico” para o Supremo Tribunal Federal (STF), pois na opinião de Bolsonaro a busca pelo “resgate dos valores familiares” deve estar presente em todos os poderes do País.

“Entre as duas vagas que terei para indicar para o Supremo um deles será terrivelmente evangélico”, disse o presidente, que em passado recente, enquanto deputado federal, disse a jornalistas que usava o apartamento funcional da Câmara dos Deputados para “comer gente”. Para quem defende o “resgate dos valores familiares”, Bolsonaro é a personificação da farsa.

Em junho, ao criticar a decisão do STF de criminalizar a homofobia como forma de racismo, Jair Bolsonaro já sugeriu a indicação de um evangélico para a Suprema Corte, como se isso fosse requisito primordial para o ingresso na mais alta instância do Judiciário nacional.


Até 2022, o presidente da República poderá indicar nomes para pelo menos duas vagas, que serão abertas com a aposentadoria compulsória dos ministros Marco Aurélio Mello e Celso de Mello.

Hoje, ao discursar na Câmara, Bolsonaro elogiou a atuação dos parlamentares evangélicos nos últimos anos. “Vocês sabem o quanto a família sofreu nos últimos governos. Vocês foram decisivos na busca da inflexão do resgate dos valores familiares”, disse.

“Quantos tentam nos deixar de lado dizendo que o Estado é laico. O Estado é laico, mas nós somos cristãos. Ou para plagiar a minha querida Damares, nós somos terrivelmente cristãos”, disse, em referência à declaração da ministra da Mulher, Família e Direitos Humanos, Damares Alves.

Os requisitos básicos para ascender ao STF, que não passam pela seara da fé, são: ter mais de 35 anos e menos de 75, ter notório saber jurídico e reputação ilibada. Além disso, independentemente da corrente religiosa, um membro do Supremo deve seguir o que determina a Constituição, não o que pregam o Antigo e o Novo Testamento.

Bolsonaro tem garantido pela Carta Magna o direito à liberdade religiosa, mas não pode transformar a própria fé em ferramenta de um Estado impostor que usa o falso moralismo para agradar uma parcela da opinião pública. Ademais, a Constituição é cristalina em seu artigo 5º (caput) ao estabelecer que “todos são iguais perante a lei sem distinção de qualquer natureza”.