Após muito mistério e pirotecnia oficial, governo Bolsonaro decide limitar saque do FGTS a R$ 500

Quando ainda participava da corrida presidencial, Jair Bolsonaro afirmou, ao final de um debate entre candidatos, que era o único presidenciável capaz de resolver os problemas que afetavam o País e afligiam dezenas de milhões de brasileiros. Quem acreditou no discurso de Bolsonaro imaginou ser o parlamentar, que passou 28 anos na Câmara dos Deputados sem ao menos apresentar um projeto de lei, uma mistura de versão tropical de Messias com reedição do Mágico de Oz.

Essa crença irresponsável tornou-se maior após a eleição, quando o atual presidente apresentou à opinião pública o economista Paulo Guedes como o liberal que comandaria a economia nacional embalado pelos fundamentos do liberalismo econômico. A empolgação era tamanha, que os brasileiros de bem sequer reagiram ao fato de Guedes ter sido apelidado de “Posto Ipiranga” pelo próprio Bolsonaro.

Quase sete meses depois da estreia do governo, a economia nacional cambaleia de maneira preocupante, sem que Bolsonaro tivesse cobrado a adoção de alguma medida para minimizar o calvário vivido por milhões de pessoas. Com a reforma da Previdência avançando na seara da votação, a cúpula do governo percebeu, tardiamente, que é preciso fazer algo com urgência para reverter o caos e evitar o aprofundamento da crise. Foi então que surgiu a ideia de liberar recursos de contas ativas e inativas do FGTS.

A medida, que foi anunciada com excesso de pirotecnia na última semana, passou a ser tratada como a injeção de oxigênio que poderia recuperar o folego da economia, mesmo que de forma momentânea. O mercado financeiro também embarcou nesse discurso ufanista, fazendo com que os índices econômicos saltassem o suficiente o suficiente para garantir o luro de uma minoria sempre abastada.


Acreditar que a liberação de recursos do FGTS será capaz de estimular a economia é excesso de inocência ou comprovação de incompetência. Medida semelhante foi adotada pelo então presidente Michel Temer, mas o efeito na economia ficou aquém do esperado. É verdade que Temer liberou o saque dos recursos das contas inativas do FGTS, mas o dinheiro acabou direcionado para o pagamento de dívidas. E as esperadas doses de ânimo na economia ficaram para as calendas.

Depois de muito mistério, a equipe comandada pelo ministro Paulo Guedes (Economia) concluiu que o saque do dinheiro depositado na conta do FGTS será limitado a R$ 500. O governo alega que não há tempo suficiente para saques em valores maiores, mas a desculpa não convence. Do mesmo modo, a equipe econômica afirma que um trabalhador que tem três contas no FGTS, por exemplo, poderá sacar R$ 1,5 mil.

É preciso que alguém explique aos integrantes do governo Bolsonaro que ser titular de três contas do FGTS, por exemplo, significa que o trabalhador tem o mesmo número de empregos. Em um país com mais de R$ 13 milhões de desempregados, sem contar os subutilizados, ter três empregos formais é fruto de devaneio. Além disso, muitas das contas inativas do Fundo tiveram os recursos liberados em 2018.

Considerando o fato de que o Brasil tinha, em maio passado, 63 milhões de inadimplentes, o que representa 40% da população adulta, a liberação de saque de até R$ 500 em cada conta do FGTS terá efeito quase nulo na economia. Isso porque, mais uma vez, o brasileiro que for contemplado com a medida repetirá o que aconteceu no ano anterior, quando recursos foram destinados ao pagamento de dívidas atrasadas. Ou seja, o consumo ficará para depois.

Apesar de algumas ações conjuntas do governo do setor bancário para minimizar o cenário da tragédia, as principais dívidas dos brasileiros são com cartão de crédito e cheque especial. Em suma, a artilharia anunciada por Bolsonaro não passará de um tiro de festim.