Operação Spoofing: conclusões precipitadas e distorcidas por parte dos fãs de Moro são nauseantes

No âmbito da Operação Spoofing, a Polícia Federal ainda não chegou a dados e informações que permitam estabelecer conexão entre os hackers que supostamente invadiram celulares de autoridades e o jornalista Glenn Greenwald, do site The Intercept Brasil, que tem divulgado diálogos comprometedores entre o agora ministro Sérgio Moro e Deltan Dallagnol, procurador da República que coordena a força-tarefa da Operação Lava-Jato em Curitiba.

Por maior que seja o desejo dos alvos das matérias do The Intercept de ver essa conexão estabelecida, somente irresponsáveis são capazes de detectar pontos que permitam essa ligação. Quem conhece razoavelmente o jornalismo investigativo sabe ser impossível analisar, compreender e checar informações que permitam a publicação de reportagens tão complexas. Essa é uma tarefa que exige tempo e dedicação e não se leva ao cabo em poucos dias.

Como a suposta invasão do celular de Moro ocorreu no dia 4 de junho e a primeira reportagem foi ao ar cinco dias depois, qualquer declaração sobre a existência dessa aludida conexão entre hackers e o jornalista estará sempre emoldurada pela leviandade. Além disso, diálogos publicados pelo The Intercept datam de quatro anos atrás, pelo menos, o que derruba a tese conspiratória que alimenta a sanha revanchista que embala a “direita xucra” (o termo é da lavra do jornalista Reinaldo Azevedo).

Se a própria PF não consegue estabelecer a tão cobrada conexão, principalmente porque o principal suspeito (Walter Delgatti Neto), preso na última terça-feira (23), desperta a desconfiança dos investigadores por causa de um histórico de abandono familiar e uso de medicamentos contra a depressão, é irresponsabilidade em último grau afirmar que há provas cabais da relação entre os criminosos e o site jornalístico.

De acordo com declaração de amigos, Delgatti Neto tem propensão a distorcer a realidade e, ato contínuo, criar uma imagem extremamente positiva dele próprio. Esse viés de descontrole comportamental, que tem explicações psíquicas, fica evidente em um diálogo mantido pelo hacker com uma suposta blogueira de esquerda, material que está sendo propagado como a prova derradeira para decretar o fim do escândalo e mandar os responsáveis para a prisão.


Qualquer matéria jornalística com esse propósito não deve ser levada a sério, pois trata-se de oportunismo barato de quem busca visibilidade em um universo que exige conhecimento, responsabilidade, ética e noções básicas de investigação.

A situação torna-se ainda mais repugnante quando influenciadores digitais, movidos pelo revanchismo ideológico e pela ignorância em relação à democracia, vestem-se de Joseph Goebbels – chefe da propaganda nazista – na tentativa de transformar uma enorme mentira em verdade suprema.

As investigações no escopo da Operação Spoofing correm em segredo de Justiça, o que por si só impede devaneios conclusivos que têm o objetivo de salvar a reputação de quem, desrespeitando a lei de forma flagrante, mergulhou nas águas do ativismo judicial, como se na democracia existisse espaço para o justiçamento.

O cipoal de informações desencontradas no âmbito do caso é tamanho, que chega a provocar náuseas o comportamento dos aduladores de Sérgio Moro e seus quejandos, há muito alçados erroneamente ao panteão dos heróis de um país marcado pela hipocrisia.

O mais interessante (sic) nessa ópera bufa é que os defensores do combate à corrupção a qualquer preço são os mesmos que violam as leis e regras em suas filigranas, como, por exemplo, estacionar em local reservado para idosos ou portadores de necessidades especiais, sonegar impostos, aceitar o caixa 2 nas situações mais comezinhas, e por aí vai. “Infeliz a nação que precisa de heróis”, disse certa vez o alemão Bertolt Brecht, que sequer conheceu o Brasil.