Maia grava vídeo em apoio a Glenn Greenwald, critica autoridades e defende a liberdade de imprensa

Presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ) gravou vídeo defendendo a liberdade de imprensa e o sigilo da fonte. O parlamentar fluminense comparou o vazamento de diálogos por hackers presos pela Polícia Federal aos feitos por agentes públicos. Na opinião de Maia, ambos são criminosos, mas o jornalista que divulga o material – de interesse público, é importante ressaltar – tem o direito de fazê-lo por compromisso profissional e está sob proteção da Constituição Federal.

O vídeo foi gravado para ser usado em ato de apoio ao site The Intercept Brasil e ao jornalista Glenn Greenwald, que vêm publicando os diálogos nada republicanos entre o ex-juiz Sérgio Moro (agora ministro da Justiça) e integrantes da força-tarefa da Operação Lava-Jato em Curitiba.

Mesmo que os apoiadores de Moro critiquem a divulgação dos arquivos, atacando de maneira covarde e rasteira o jornalista, os diálogos comprovam um inequívoco conluio entre Moro e Dallagnol (coordenador da Lava-Jato na capital paranaense), já que o julgador, que de acordo com a lei deve manter-se isento, orientou a acusação. Isso é motivo mais que suficiente para a anulação das sentenças judiciais no âmbito da Lava-Jato, em que pese a manutenção das provas obtidas durante as investigações.

No último final de semana, em clara demonstração de desrespeito à Carta Magna e ignorância em relação à legislação vigente, o presidente Jair Bolsonaro afirmou que Greenwald “talvez pegue uma cana” por divulgar as mensagens. Se Bolsonaro insiste em transformar o revanchismo ideológico em tábua de salvação de um governo pífio e adepto da fanfarronice, a Justiça deve colocar o presidente no seu devido lugar, pois sua eleição não foi para fazer da democracia um parque de diversões para sanha persecutória.

No vídeo, Rodrigo Maia afirma que “passamos a viver uma grande polêmica depois da prisão do tal hacker. Sobre a questão dos dados. De quem é a responsabilidade. Tem uma questão que é a base desse debate, que é o sigilo da fonte”.


O presidente da Câmara prosseguiu em sua declaração: “No país, no nosso Brasil democrático, no nosso Estado Democrático de Direito, o sigilo da fonte é um direito constitucional. A partir daí, temos que discutir, de fato, um hacker que pegou de forma ilegal, ilícita, criminosa, dados de terceiros. [Ele] precisa ser punido. Investigado, descoberto, e aí sim, punido”.

No contraponto, o democrata afirma que “um agente público que vaza informações sigilosas que estão sob o seu comando também comete um crime. Todos os dois estão cometendo atos ilícitos. Um agente público entregou uma informação sigilosa a um meio de comunicação. Esse meio de comunicação deu divulgação. Ele está protegido pelo sigilo. Um hacker, um criminoso, extraiu informações de um cidadão. Passou para a sua fonte [veículo de mídia]. Ela pegou essas informações e jogou na sociedade”.

“O sigilo da fonte é um direito democrático. Não é a favor do Glenn, mas é a favor da nossa liberdade de expressão”, conclui Rodrigo Maia.

Outras personalidades, como o jornalista Tucker Carlson, do canal de televisão norte-americano Fox News, também gravaram mensagens de apoio a Glenn, exibidas em evento na Associação Brasileira de Imprensa (ABI), na noite desta terça-feira.

O jornalista Glenn Greenwald tem o incondicional apoio do UCHO.INFO, que sempre defendeu – e continua a defender – a liberdade de imprensa e o respeito à Constituição e ao Estado de Direito, assim como é incentivador do jornalismo independente.

Além disso, o fundador do site The Intercept Brasil tem o apoio irrestrito do editor deste portal, jornalista Ucho Haddad, que foi alvo de perseguição semelhante por ocasião da divulgação das conversas telefônicas sobre o caso do assassinato do petista Celso Daniel, então prefeito de Santo André, no ABC paulista, e no momento em que deu início às denúncias de corrupção na Petrobras, ainda em 2005.