Novos diálogos entre Moro e Dallagnol revelam manipulação da investigação e da denúncia

Divulgados pelo site jornalístico The Intercept Brasil, os diálogos entre o ex-juiz Sérgio Moro (atual ministro da Justiça) e integrantes da força-tarefa da Operação Lava-Jato em Curitiba são, além de escandalosos, um atentado contra o Estado de Direito. A massa de adoradores d Moro alega que não se pode combater a corrupção usando “luva de pelica”, mas é importante ressaltar que o respeito incondicional à lei, em especial por autoridades, é um dos pilares da democracia.

Como se não bastasse tudo o que foi divulgado até agora pelo The Intercept, novos diálogos mostram a atuação do procurador Deltan Dallagnol nos bastidores do Supremo Tribunal Federal (STF) para influenciar na escolha do relator da Lava-Jato na Corte, após a morte do ministro Teori Zavascki. O interlocutor de Dallagnol no Supremo foi o ministro Luís Roberto Barrso, que para os procuradores da força-tarefa era o nome ideal por não ter “rabo preso”.

Trata-se de um escárnio na esfera do Direito, pois não se pode aceitar a ingerência do órgão acusador no Judiciário. Além disso, diante da não escolha do nome de Barroso, fica claro que a indicação do ministro Luiz Edson Fachin para a relatoria da Lava-Jato foi uma espécie de missa encomendada pelos procuradores da República.

Como à época Fachin integrava a Primeira Turma do STF, foi preciso que o ministro pedisse transferência para a Segunda Turma para assumir a relatoria da Lava-Jato. Essa mudança teria ocorrido após costuras feitas por Deltan nos bastidores do STF. Em suma, novo escárnio no âmbito da operação, assunto mais que suficiente para anular as condenações, seguindo o roteiro adotado pela Justiça em relação às operações Castelo de areia e Satiagraha, ambas anuladas pela Justiça.

Não obstante, novos diálogos divulgados pelo The Intercept Brasil mostram que o então juiz Sérgio Moro convenceu os procuradores da Lava-Jato a não apreenderem o celular de Eduardo Cunha, ex-presidente da Câmara dos Deputados e preso em Curitiba por corrupção passiva e lavagem de dinheiro.


Em 18 de outubro de 2016, um dia antes da prisão do deputado cassado, Deltan escreve para Moro: “Queríamos falar sobre a apreensão de celulares. Consideramos importante. Teríamos que pedir hoje”. Ao que o juiz respondeu: “Acho que não é uma boa”.

Na mesma troca de mensagens, o coordenador da Lava-Jato em Curitiba pede para reunir-se com Moro. O encontro serviria para “explicar razões” do pleito (apreensão dos celulares de Eduardo Cunha).

Sem demora, ambos, Dallagnol e Moro, acertam um rápido encontro, que aconteceu na sequência. Aproximadamente duas horas após o encontro, Deltan Dallagnol envia a Moro mensagem com o seguinte conteúdo: “Entendemos que não é o caso de pedir os celulares, pelos riscos, com base em suas ponderações”.

Não se pode combater um crime cometendo outro crime. E é exatamente isso que, respaldados por parte da sociedade, Moro e Dallagnol defendem, mesmo que não assumam publicamente essa sandice. Tanto o ministro da Justiça quanto o procurador da República não reconhecem a autenticidade de mensagens obtidas pelo The Intercept Brasil e afirmam que o material tem origem em crime cibernético.

Não há por enquanto qualquer prova que aponte ser o grupo de hackers a fonte do jornalista Glenn Greenwald, fundador do Intercept. Considerando que a Constituição garante o sigilo da fonte, os discursos visguentos e repetitivos do ministro e do procurador servem para nada. Em um país minimamente sério, ambos já estariam afastados dos respectivos cargos.