Fugindo do óbvio, Bolsonaro deve se distanciar dos ruralistas para evitar novas polêmicas sobre a Amazônia

Compreender a birra palaciana em relação à tragédia que se abate sobre a Amazônia exige atenção redobrada e conhecimento dos bastidores do Poder. Que ninguém pense que um candidato à Presidência da República se elege com apenas R$ 4 milhões em gastos de campanha. Se Jair Bolsonaro informou esse número ao TSE e a Justiça Eleitoral e a opinião pública acreditaram nessa balela, é de se lamentar o momento vivido pelo Brasil. O valor informado por Bolsonaro ao Tribunal Superior Eleitoral é próximo do que gasta um candidato a vereador – de um partido de porte médio para grande – na cidade de São Paulo.

Refém dos ruralistas, Jair Bolsonaro não depende apenas da bancada do agronegócio no Congresso Nacional, mas do setor como um todo, que na campanha lhe dedicou muito mais do que apoio. A política ambiental do governo não deixa dúvidas de que a ordem diuturna é atender as necessidades do setor, sob pena de o governo tropeçar em muitos momentos na seara do Parlamento. Afinal, a bancada ruralista na Câmara dos Deputados abriga pelo menos 200 parlamentares, número suficiente para derrubar um chefe do Executivo.

Assustadoras, as entranhas do Poder são também imundas. No afã de não dar margem a especulações, assessores palacianos recomendaram a Bolsonaro um imediato e providencial distanciamento dos ruralistas, antes que a opinião pública descubra o que há muito o UCHO.INFO vem destacando. A relação nada republicana entre o Palácio do Planalto e o agronegócio.

Esse tipo de relação canhestra teve espaço em outros governos, não se pode negar, mas é importante ressaltar que em todas as ocasiões essas parcerias foram merecedoras de críticas contundentes e responsáveis do UCHO.INFO, que não se curva ao jornalismo de aluguel.


A preocupação com essa proximidade é tamanha, que Bolsonaro foi aconselhado a não comparecer à Expointer, feira agropecuária de Esteio, no Rio Grande do Sul, como forma de não atrair o foco para um tema que os leitores deste noticioso já conhecem.

No momento em que aceita passivamente a estratégia desenhada por seus assessores, o presidente endossa as notícias deste portal, ao mesmo tempo em que assimila o golpe proveniente das queimadas na Amazônia.

Quem conhece os subterrâneos do Poder sabe como surgem as desculpas milagrosas e esfarrapadas para salvar um presidente da República. A ordem do dia é investigar um movimento que começou em aplicativos de mensagens e instituiu o dia 10 de agosto como “Dia do Fogo”, forma que os grileiros (são prepostos dos ruralistas) teriam encontrado para mostrar a Bolsonaro o desejo de trabalhar.

As queimadas cresceram de maneira tão assustadora quanto criminosa porque o presidente da República enviou aos delinquentes do campo, através de discursos descabidos, uma mensagem que mais parecia convite à ilegalidade. Bolsonaro não apenas condenou, em mais de uma ocasião, a aplicação de multas aos que atentam contra o meio ambiente, mas não enviou à Amazônia a tropa de elite do Ibama, responsável por fiscalizar a destruição da floresta.

Como se não bastasse, Bolsonaro, com o endosso espúrio do ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, colocou em xeque os dados do sistema de monitoramento Reter, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), com direito à demissão do diretor do órgão, Ricardo Galvão. Isso soou aos criminosos do campo como uma carta de alforria, o que explica o aumento surpreendente do número de queimadas na Amazônia.