Guedes insiste na criação da “nova CPMF”, que penalizará os pobres e facilitará a vida dos criminosos

Durante a corrida presidencial de 2018, Jair Bolsonaro afirmou, ao final de um dos poucos debates em que deu o ar da graça, que era o único candidato capaz de solucionar todos os problemas do País. O agora presidente não foi obrigado a se candidatar, mas quando decidiu concorrer ao Palácio do Planalto tinha conhecimento da extensão dos problemas nacionais. De tal modo, o que lhe cabe no momento é solucionar os problemas que sacodem o Brasil e tiram o sono dos brasileiros, pois é impossível continuar no pântano do impasse ouvindo o mantra delinquente dos jagunços bolsonaristas que agem nas redes sociais.

De igual modo, Bolsonaro adotou ar meio messiânico, meio professoral ao apelidar o economista Paulo Guedes como “Posto Ipiranga”, dando a entender que o atual ministro da Economia era dono de competência à altura dos muitos desafios que se esparramam pela Esplanada dos Ministérios, em Brasília. A reboque do mote “mais Brasil, menos Brasília”, Guedes não fez outra coisa até o momento, que não criticar governos anteriores e a socialdemocracia. Além disso, o ministro, que é investigado por gestão fraudulenta na captação de recursos (R$ 1 bilhão) de fundos de pensão de estatais, insiste em criticar a corrupção, mesmo integrando um governo que abriga e protege corruptos.

Resolver os problemas econômicos sacrificando novamente os mais pobres não é novidade. Governantes anteriores adotaram medida idêntica, mesmo que com roupagens distintas, mas a conta acabou no bolso dos menos favorecidos. Para justificar seus planos de aquecimento da economia, Paulo Guedes defende a criação de um imposto que incidirá sobre os meios de pagamento, nos moldes da famigerada e extinta CPMF, com alíquota de 0,20%. A medida, segundo o ministro, compensaria as perdas decorrentes da desoneração da folha de pagamento.

Esse tipo de solução não ajuda o País, que poderia buscar novas receitas tributando grandes fortunas, o rendimento e o patrimônio dos endinheirados. Ao contrário, o que o governo Bolsonaro deseja é manter a blindagem no entorno dos mais ricos, impondo aos desfavorecidos os devaneios de uma equipe econômica que só sabe caminhar sobre o salto alto.


É importante destacar que analistas do mercado financeiro consultados pelo Banco Central (BC) apostam em queda da inflação, medida pelo IPCA, até o final do ano. Esse quadro deveria estimular o consumo, o que geraria caixa para o governo, mas a dificuldade em reduzir o desemprego impede que o problema tenha solução no curto prazo. A inflação baixa permite ao BC reduzir a taxa básica de juro (Selic), cujo recuo não se materializa no crédito ao consumidor, que continua sendo penalizado pelas instituições financeiras.

No caso de a “nova CPMF” ser aprovada – algo difícil de acontecer no Congresso –, o País de novo mergulhará na fase do pagamento em dinheiro vivo. Afinal, para fugir da sugerida tributação a saída será priorizar o dinheiro em espécie, o que acontece com certa frequência em alguns setores da economia.

Além disso, a proposta da equipe liderada por Paulo Guedes fará com que, no rastro do aumento do dinheiro vivo em circulação, a ação dos bandidos seja facilitada. Com a crise econômica dando repetidos sinais de resistência – seja pelo cenário interno, seja pelo externo – os roubos e assaltos devem disparar sobremaneira. Considerando que o governo está decidido a contingenciar em 32,5% os recursos destinados ao Ministério da Justiça e Segurança Pública, ainda sob a batuta de Sérgio Moro, o cenário será um convite para os transgressores da lei.

Moro reclamou com o ministro da Economia, alegando que o corte de verbas penalizará a Polícia Federal e a Polícia Rodoviária Federal, comprometendo a emissão de passaportes, ações de combate à corrupção e ao tráfico de drogas. Mesmo que a segurança pública recaia com maior intensidade sobre os governos estaduais, combater o avanço dos crimes cometidos por causa do dinheiro vivo em circulação será tarefa hercúlea. A bandidagem agradece, principalmente aqueles que se dedicam às cobiçadas e criminosas “rachadinhas”.