Planalto decide enviar à Europa superintendente da PF no Rio e esvazia investigação sobre milicianos

Quando o UCHO.INFO afirmava que Jair Bolsonaro, atual presidente da República, era “mais do mesmo”, contrariando os falsos discursos do então candidato ao Palácio do Planalto, muitos nos dedicaram críticas e ofensas das mais torpes, sob a alegação espúria de que estávamos a torcer contra o País.

Diferentemente do que afirmava – e ainda afirma – a turba bolsonarista, somente alguém movido pela irresponsabilidade seria capaz de torcer contra o Brasil. Nosso compromisso como órgão de imprensa é com os leitores e seguidores, sem fugir à ética e à verdade dos fatos. Entendemos o fato de os apoiadores do presidente discordarem do nosso jornalismo, até porque é preciso respeitar o contraditório, mas não enxergar o óbvio é sinal de pouca inteligência.

Bolsonaro, que na corrida presidencial se apresentou como candidato contra o petismo, foi eleito à sombra da promessa de combate implacável à corrupção. Tal bandeira de campanha não demorou muito a esgarçar, já que o presidente começa a colocar as garras de fora, revelando seu viés totalitarista.

Há dias, o presidente afirmou que o superintendente da Polícia Federal no Rio de Janeiro, delegado Ricardo Saadi, seria substituído por problemas de gestão e baixa produtividade, o que não é verdade. Além disso, o presidente ameaçou com eventual demissão o diretor-geral da PF, Maurício Valeixo, em nova investida contra o ministro da Justiça, Sérgio Moro, a quem a corporação é subordinada. Na ocasião, o presidente disse que na PF mandava ele, não o ministro da Justiça

Diferentemente do que afirmou Bolsonaro, Saadi é um dos mais bem avaliados delegados da PF no Índice de Produtividade Operacional (IPO), que mede o desempenho das superintendências da corporação em todo o País. Além disso, Ricardo Saadi foi responsável por várias operações policiais bem-sucedidas no Rio de Janeiro, como, por exemplo, a que culminou com a prisão de Dario Messer, conhecido como “o doleiro dos doleiros”.


Depois de uma ameaça de intifada na PF, com direito a renúncia dos “cabeças” da corporação, Bolsonaro amainou o discurso, mas voltou à carga nos bastidores, pois está incomodado com investigações policiais que a qualquer momento podem expor à opinião pública a verdade.

Ricardo Saadi já havia comunicado a direção da PF sobre o desejo de retornar a Brasília para ficar próximo da família, mas diante dos desdobramentos ficou decidido que o superintendente da Polícia Federal será enviado para missão especial no exterior. O delegado será enviado à Europa, onde ocupará o cargo de oficialato de ligação. Nessa função, Saadi trabalhará na Europol, a força de segurança da União Europeia (UE). A indicação depende de aprovação do Congresso.

Para compreender o castelo cartas que Bolsonaro insiste em blindar para evitar o desmoronamento, Ricardo Saadi foi responsável pela Operação Furna da Onça, que investigou parlamentares fluminenses envolvidos em corrupção, muitos deles flagrados na famosa “rachadinha”, repasse de parte dos salários dos servidores de gabinetes da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj) para os deputados estaduais. Entre os investigados está Fabrício Queiroz, espécie de faz-tudo da família Bolsonaro e que até o final de 2018 era o “braço direito” do filho mais velho do presidente da República, o senador Flávio Bolsonaro (PSL-RJ).

Em janeiro deste ano, no bojo da Operação Intocáveis, a Polícia Civil e o Ministério Público do Rio de Janeiro (MP-RJ) prenderam milicianos de Rio das Pedras, acusados de extorsão, homicídios e fraudes imobiliárias utilizando a Associação de Moradores da comunidade. Entre os principais líderes da milícia local, identificados pelos investigadores, está ex-policial Adriano Magalhães da Nóbrega, foragido da Justiça.

O temor de Bolsonaro é que a investigação em curso na PF do Rio de Janeiro traga à tona as eventuais ligações do filho com milicianos que agem no estado. Faz-se necessário ressaltar que Adriano da Nóbrega, um dos fundadores do bandoleiro “Escritório do Crime”, emplacou a mãe e a esposa como servidoras do gabinete de Flávio Bolsonaro na Alerj.

Não obstante, nas eleições de 2018, Flávio foi o mais votado em 74 das 76 seções eleitorais da comunidade de Rio das Pedras, na Zona Oeste do RJ, controlada pelo miliciano Adriano da Nóbrega, que é próximo de Fabrício Queiroz, que por sua vez depositou R$ 24 mil na conta da primeira-dama Michelle Bolsonaro.