À sombra do revanchismo ideológico, Bolsonaro ataca o PCdoB ao falar sobre a carteira estudantil digital

Presidente da República, Jair Bolsonaro continua em cima do palanque, de onde deveria ter descido em 28 de outubro do ano passado para governar em nome de todos os brasileiros. Bolsonaro deve permanecer nessa situação, uma vez que a mais recente pesquisa Datafolha apontou alta no índice de desaprovação do chefe do Executivo (saltou de 33% para 38%).

O presidente insiste em fermentar o discurso de ódio e o revanchismo ideológico, como se a divisão do País e o alijamento de setores não alinhados a ele pudessem resolver os muitos problemas existentes e que têm tirado o sono da população. Essa situação tende a piorar, pois Bolsonaro precisa manter aceso até 2022 o seu projeto de reeleição, o que só será viável debaixo da radicalização do discurso e das decisões no escopo do governo.

Nesta terça-feira (3), ao comentar sobre a Medida Provisória que institui nova carteira estudantil digital no País, Bolsonaro atacou o PCdoB, deixando claro, mais uma vez, que desrespeita a Constituição federal, ignora o Estado Democrático de Direito e incorre em crime de responsabilidade (Lei nº 1.079, artigo 4º, inciso III).

De acordo com a chamada MP da Liberdade Estudantil, deixa de existir a obrigatoriedade de pagamento de taxa à União Nacional dos Estudantes (UNE), é historicamente comandada pela juventude do PCdoB. Para o presidente, com a edição da MP vai “faltar dinheiro” para o partido.

“Carteira digital. Vou facilitar a vida dos estudantes. Não vai ter mais que pagar para a UNE, que quem manda lá é o PCdoB. Vai faltar dinheiro para o PCdoB, hein”, disse Bolsonaro, aos risos, ao deixar o Palácio da Alvorada na manhã desta terça-feira.


A MP da Liberdade Estudantil deverá ser assinada na próxima sexta-feira (6), durante cerimônia no Palácio do Planalto, segundo informações do Ministério da Educação.

A criação da carteira estudantil digital é alvo de estudos desde o governo de transição, mas à época o projeto não contou com o endosso da área jurídica nem do departamento técnico Instituto Nacional de Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), que usa os censos educacionais para coletar informações pessoais dos alunos. Além disso, a questão envolvendo a carteira digital foi um dos motivos que levou à demissão do presidente do Inep, Elmer Vicenzi, em maio passado.

Enquanto joga para uma plateia de abduzidos que sequer conseguem enxergar o avanço do caos, Bolsonaro continua sem adotar medidas na seara econômica que atenuem a carestia vivida por dezenas de milhões de trabalhadores brasileiros, os quais não sabem mais o que fazer para sobreviver.

Em que pese a desconfiança dos bolsonaristas em relação à mais recente pesquisa Datafolha, o levantamento feito pelo instituto mostrou de forma inequívoca que os mais pobres e as pessoas de 35 a 59 anos foram os principais responsáveis pela alta no índice de reprovação do presidente. O contingente dos brasileiros que consideram o governo “ruim ou péssimo” cresceu em todos os segmentos de renda, idade, escolaridade, região e cor.

Contudo, foi decisiva para essa escalada da desaprovação de Bolsonaro a representatividade dessas duas faixas — brasileiros com renda familiar mensal de até dois salários mínimos e pessoas de 35 a 59 anos. Isso explica a preocupação da assessoria presidencial em relação ao levantamento, cujos resultados comprometem o projeto de reeleição do presidente.